21 de maio de 2011

ENTREVISTA DE GIOVANA GATTI

Entrevista realizada no dia 26/05/2011, junto a estudante de arquitetura Giovana Gatti e também funcionária da Secretaria de Estado e de Planejamento de Minas Gerais.


PERGUNTA:
Após a mudança da máquina administrativa do estado de Minas Gerais para o novo Centro Administrativo, você sabe de alguma das edificações até então utilizadas se tornaram obsoletas ou não estão sendo utilizadas ou pouco utilizadas?

RESPOSTA:
O local que eu trabalho (esquina da Rua da Bahia com Gonçalves Dias) ficou temporariamente vazio entre agosto (quando SEF/MG foi transferida para a CAMG) e dezembro, ocasião que foi reocupado por vários setores da própria SEF que tem atendimento ao público e não foram transferidos para CAMG, que por sua vez desocuparam 4 imóveis que estavam alugados. Há rumores de subutilização, como é o caso da sede da SEPLAG na Rua Tomaz Gonzaga (acho que é essa a rua...). Um prédio que tenho certeza que foi totalmente desocupado, e não sei se assim permanece, é o da Rio de Janeiro – Praça Sete – o que tem o ITAÚ no térreo. Eu trabalhei lá no período entre agosto/dezembro/2010, ocasião que foi totalmente desocupado. Procure saber na portaria do prédio. Se eu souber de outro, falo com você. Abraços.

Edifício Tancredo Nevez, Rua Tomás Gonzaga, Nº 686. Bairro Lourdes.

Antiga Sede do Banco Mineiro da Produção BEMGE, Rua Rio de Janeiro, Nº 471. Bairro Centro - PROJETO DE OSCAR NIEMEYER DO ANO 1953

20 de maio de 2011

Retrofit Predial: reciclagem tecnológica

Fonte: Revista IPESI

O retrofit predial - ou seja, a revitalização de edifícios principalmente comerciais via a modernização construtivo-arquitetônica - começa a se tornar um mercado estratégico para as produtoras de equipamentos eletrônicos para edificações, assim como para as empresas de implantação destes equipamentos.

Várias dezenas de edifícios de médio e grande portes já passaram por processo de retrofit nos últimos anos nas principais cidades brasileiras - com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro - e projetos deste tipo não param de pipocar pelo País. E é um mercado que tem tudo para crescer ainda mais, devido à crescente escassez de terrenos nas metrópoles e o alto preço da maioria deles, para não falar do próprio custo da construção.

Prédios aptos a receber retrofit não faltam no País. Em São Paulo, há regiões como o Centro e a Avenida Paulista onde mais de 90% dos edifícios não são dotados de inteligência predial. Nos centros e pólos comerciais das outras cidades acontece o mesmo.

O retrofit é uma modalidade construtiva já bastante rotineira no Primeiro Mundo. Na Europa, 50% das obras já são constituídas hoje por reformas e reabilitações. Na França e na Itália, este índice sobe para 60%.

Praticamente todos os retrofits construtivo-arquitetônicos tentam, além de dar um “banho de loja” na fachada e nas áreas internas da edificação, incorporar alguma das modernas tecnologias prediais disponíveis no mercado, que são comumente agrupadas dentro do conceito de inteligência predial.

As redes originais de luz, telefone e água, além dos elevadores, costumam ser modernizadas ou reformadas, e posteriormente anexadas aos sistemas inteligentes, quase sempre pilotados por computador. A idéia é integrar os sistemas elétricos, de telecomunicações, hidráulico, climatização e de segurança em um grande “super sistema”, com o comando e a supervisão de todo o conjunto a partir de uma única sala de controle.

Deste modo, é possível programar e operar à distância o consumo de luz e ar-condicionado, por exemplo, assim como regular o uso das redes de dados e telecomunicações e coordenar os sistemas de segurança do prédio, tudo do ponto de vista da racionalidade operacional e da redução do consumo energético. Luminárias que operam dentro de um sistema inteligente podem, por exemplo, consumir 40% menos energia do que no sistema tradicional. A implantação de sistemas de segurança interna e perimetral, via controles de acesso e circuito fechado de televisão, faz parte, igualmente, desta estratégia de modernização.

A integração entre engenharia, equipamentos de controle predial e arquitetura costuma ser a chave de um bom retrofit. Os projetos de retrofit melhor desenvolvidos costumam integrar ao máximo os equipamentos de inteligência predial - como sensores, comandos, detectores e termostatos dentro de um desenho arquitetônico e de engenharia construtiva o mais moderno e funcional possível.

VALORIZAÇÃO - É o desejo da valorização imobiliária que está empurrando a maior parte dos condomínios comerciais (e mesmo alguns residenciais) no caminho do retrofit. Construído há mais de 40 anos, o Centro Empresarial RD-53, do Rio de Janeiro, teve o valor do metro quadrado de locação elevado de R$ 13 para R$ 55 depois de receber um tratamento de modernização arquitetônica e a implantação de sistemas prediais inteligentes.

Do mesmo modo, o Edifício Marambaia, prédio residencial erguido há 30 anos em São Paulo, viu o preço médio de um apartamento subir de R$ 550 mil para R$ 1.500 mil com o projeto de retrofit desenvolvido pelo arquiteto Roberto Camdusso, que previu a recuperação da fachada e acréscimo de um terraço de estrutura metálica em cada apartamento, além de um sistema informatizado de controle predial. Uma unidade privilegiadamente localizada foi vendida a R$ 2.100 mil.

O custo de uma reabilitação por retrofit é baixo, comparado ao de uma edificação nova. A modalidade gera uma economia mínima de 40% no valor do metro quadrado de construção, na comparação com o custo do metro quadrado de um projeto “zero quilômetro”. O prazo de execução também é menor nos projetos de retrofit, cerca da metade de uma obra nova.

Os projetos arquitetônicos e de instalações costumam ser desenvolvidos em conjunto no retrofit tradicional. Mas já se observa no mercado um movimento crescente de retrofits apenas das instalações prediais, sem intervenções na arquitetura. Esta modalidade, mais barata, vem também se disseminando com enorme rapidez pelo mercado, mas tem a desvantagem, para o empreendedor, de a quantidade de “inteligência” a ser colocada no edifício depender do tipo de arquitetura pré-existente.

Mesmo assim, projetos de retrofit apenas para as instalações estão prevendo cada vez mais a implantação até de sofisticados sistemas de dados, com infra-estrutura de comunicações por cabeamento estruturado ou por sistemas wireless (sem fio), prerrogativa até pouco tempo atrás dos edifícios novos, já projetados para operarem com eles, ou dos projetos globais de retrofit.

LINK: http://www.licitamais.com.br/noticias/news/1948.html

RETROFIT - A cirurgia Plástica do Edifício

Após algumas décadas, mudanças na cidade e no estilo de morar criam novas necessidades a quem vive em apartamentos. Diante de tantos lançamentos, até mesmo a arquitetura se desatualiza, pedindo intervenções em fachadas ou interiores. Alguns prédios paulistanos remoçam e se valorizam substancialmente com um processo de retrofit (a expressão inglesa junta o latino retro – movimentar-se para trás – ao ingles fit – adaptação, ajuste). Além do ponto de vista comercial, há um incentivo para esse tipo de obra, graças à linha de crédito para reformas oferecida pela Caixa Econômica Federal.

Chegou a hora de São Paulo, depois de um crescimento vertiginoso, rumo às franjas distantes da cidade, voltar-se às suas áreas mais próximas do centro – bairros nobres ou que já foram assim como o próprio coração histórico. Vale dar aos edifícios antigos um novo visual ou mesmo criar novos usos, Assim um hotel ou sede de empresa pode virar prédio de apartamentos para gostos e bolsos variados. “A cidade faz uma coivara e abandona bairros”, diz o arquiteto Roberto Candusso, referindo-se à forma de lavoura indígena que larga o terreno e busca outro quando aquele não é mais fértil. “Precisamos aprender com os europeus outra atitude.”, completa Roberto. E, afinal, quando um prédio merece retrofit? O arquiteto Sílvio Heilbut reponde: “Basta ter boa construção e arquitetura – não precisa ser assinado, porque a gente usa roupa que não é de grief e nem por isso joga fora”. Sílvio frisa que é importante valorizar o imóvel do ponto de vista estético e financeiro (o preço do imóvel pode dobrar ou quadruplicar, veja o caso ao lado). Vários edificios foram construídos com área maior que o permitido hoje, por exemplo, seis vezes maior que a área do terreno em comerciais e quatro em residenciais” Nesse caso, se a construção tem qualidade e está bem localizada, ela pode e deve passar pelo retrofit, porque seria insano derrubar um prédio desses e erguer um novo.

As varandas do Marambaia

O Arquiteto Roberto Candusso comprou um apartamento da década de 1970 na alameda Franca, nos Jardins. No ano de 2000, o Edíficio Marambaia sofria como infiltrações na fachada de mármore e granito. “Apesar de ser gigantesco, 400m2, faltava uma área externa para cada unidade. Sugeri que fosse acrescentado um terraço, com estrutura metálica, e a aceitação foi grande”, conta Roberto, que pediu autorização diretamente ao arquiteto para alterar a fachada original e elaborou dois projetos: com varandas em todas as unidades ou com com vários andares sem elas. Apenas dois proprietários ão queriam varanda, “ e ia ficar com uma fachada banguela”. Eles foram convencidos , pois a lei municipal determina aporvação unânime para reformar a fachada(leia quadro no final da reportagem). Apois dois anos de obra e investimento de R$ 150 mil de cada unidade, o imóvel de R$ 550 mil passou a valer R$ 2,1 milhões.

A fachada antes reta ganhou movimento e curvas como uma mulher que faz lipoescultura. Isso aconteceu graças à fundação de estacas e à estrutura das varandas, toda metálica e independente da do edíficio.


Link: http://web.mac.com/rcandusso/iWeb/Candusso%20News/noticias/812C5C58-EFCB-47AF-89C3-025FEB84CFC2.html

4 de maio de 2011

OBRA ANÁLOGA - Requalificação do edifício Maria Paula - SP

1. Histórico

Localizado na Rua Maria Paula, 161, do Bairro Belavista, do centro histórico de São Paulo, foi de propriedade de Dirce de Azevedo Soares B. Pimentel e outros. O terreno compreende uma área de 500m2 com 24,26m de testada. O prédio de quatorze pisos e um subsolo foi projetado pelo Escritório Técnico A. B. Pimentel, para abrigar as residências da classe média, numa área construída perfazendo um total de 3.910 m2, em 1956.

Posteriormente, o prédio foi abandonado pelos moradores, devido à falta de garagens. Ele esteve abandonado até 1997, quando foi ocupado pelo Fórum de Cortiços (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL-SP, 2007). Em 2002, foi tombado com Nível de Preservação 3 (NP3) pelo Conselho Municipal de Preservação de São Paulo (COMPRESP), mediante Resolução n° 22, de 2002, devido a sua importância arquitetônica, histórica e cultural.

Segundo o Artigo 7 da Resolução n° 22/2002, o Nível de Preservação 3 (NP3) está definido como a Preservação parcial do bem tombado. Ressalta que: “Quando se tratar de imóvel deverão ser mantidas as características externas, a ambiência e a coerência com o imóvel vizinho classificado como NP1 e NP2, bem como deverá estar prevista a possibilidade de recuperação das características arquitetônicas originais”. Ainda o Artigo 9° expressa: “com relação aos imóveis classificados com NP3 serão admitidos reparos externos visando conservação e manutenção do bem tombado, sem modificação de vãos, estrutura ou material utilizado”.

Através do Programa de Arrendamento Residencial, a Prefeitura de São Paulo (gestão 2001-2004), em convênio com a Caixa Econômica Federal (CEF), reciclou e adequou o prédio para 75 unidades residenciais, para uma população com renda entre três e seis salários mínimos. O projeto de restauração e reciclagem esteve a cargo do Escritório de Arquitetura: Fábrica Urbana e Projetos da Cidade e a construção foi realizada pela 3RD. O valor pago pelo imóvel foi de R$ 1.000.000,00 e o da operação foi de R$ 1.980.596,69 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL-SP, 2007). Terminada a obra, o edifício foi entregue aos beneficiários desse programa em 2004.

2. Prédio original
Originalmente, o prédio Maria Paula é de quatorze pisos e um subsolo, abrigando, no pavimento térreo, o quarto do zelador, com cozinha e banheiro; saguão de acesso aos apartamentos, com portaria, depósito e elevador social; um elevador de serviço; uma loja, com depósito e banheiro; e uma segunda loja com banheiro.

Do 1° ao 10° pavimento abriga-se um apartamento por piso, e, por sua vez, cada apartamento compreende um hall, um elevador social, um elevador de serviços, sala, sala de jantar, lavabo social, três dormitórios, banheiro, terraço, copa, cozinha, despensa, banheiro de serviços, lavanderia.

Do 11° ao12° pavimento abriga-se um único apartamento e uma escada interna que interliga o 11° pavimento do 12° pavimento. Tem-se acesso a este apartamento por um elevador social e outro de serviços. O apartamento do pavimento inferior compreende o hall, o living room, o salão com lareira, sala de jantar, banheiro social, terraço coberto, área de serviço, copa, cozinha, lavanderia e banheiro de serviço. O pavimento superior (12° pavimento) abrigava um dormitório, banheiro, uma suíte, sala de costura, rouparia e terraço.

Ao 13°, o acesso se dava através do elevador de serviço e da escada. Este pavimento abrigava dois quartos de empregada, um terraço, um banheiro, a rouparia e a sala de máquinas. (Figura 1)

2.1.3. Reciclagem do prédio

A Prefeitura de São Paulo, em convênio com a Caixa Econômica Federal e com recursos do PAR, reciclou o prédio Maria Paula. Este foi adquirido pelo valor de R$ 1.000.000,00 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL-SP, 2007). A data de contrato para sua reciclagem é de15 de maio de 2001. O custo da obra (aquisição do prédio, reforma e legalização) foi orçado em R$ 1.980.596,69 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL-SP, 2007). O projeto de arquitetura e de adequação para uso residencial do prédio foi realizado pelo arquiteto Juan Luís Rodrigues Gonzáles do Escritório da Fábrica Urbana. A construção foi realizada pela 3RD. Os treze andares, o térreo e o subsolo existentes abrigam 75 unidades residenciais para uma população com renda entre três e seis salários mínimos. No subsolo estão a área para reuniões do condomínio, a área de recreação infantil, o reservatório de água, a casa de bomba, o abrigo de medidores, duas escadas e dois espaços livres para jardim. No pavimento térreo estão: o hall, a recepção, duas unidades residenciais para deficientes físicos, a lavanderia coletiva, dois elevadores, duas escadas que levam ao mezanino e uma escada e dois elevadores que fazem a interligação do térreo com os pavimentos superiores. Do 1° ao 12° pavimento, abrigam-se 6 apartamentos conjugados (sala/dormitório, copa/cozinha e banheiro). O 13° pavimento conta com um departamento com dois dormitórios, sala/copa, cozinha, depósito e banheiro (Foto1, e Figuras 1, 2 e 3).

Foto1. Fachada principal Edifício Maria Paula
Figura 1. Planta do subsolo do Edifício Maria Paula
Fonte: Salcedo, 2006 Fonte: Câmara Municipal de São Paulo, 2001

Figura 2.Planta pavimento térreo, Edifício Maria Paula


Figura 3.Planta pavimento tipo, Edifício Maria Paula
Fonte: Câmara Municipal de São Paulo, 2001 Fonte: Câmara Municipal de São Paulo, 2001

PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE ÁREAS URBANAS CENTRAIS - CAIXA FEDERAL

Saiba Mais

A quem se destina
Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos das respectivas administrações diretas e indiretas.

Acesso aos recursos

O programa tem gestão do Ministério das Cidades (MCidades) e é operado com recursos do Orçamento Geral da União (OGU). O MCidades realiza a seleção das operações a serem atendidas pelo programa e informa à CAIXA para fins de análise e contratação da operação.

O proponente deve encaminhar o Plano de Trabalho à CAIXA na forma constante da Portaria nº 82, de 25/2/2005, que anualmente estabelece as condições de contratação no exercício. O Plano de Trabalho deve ser compatível com as modalidades e com o objetivo do Programa e com a seleção efetuada pelo gestor. Deve, ainda, ser fornecida à CAIXA, junto com o Plano de Trabalho, a documentação técnica, social e jurídica necessária à análise da proposta.

Verificada a viabilidade da proposta e comprovada a situação de adimplência do proponente, segundo as exigências da legislação vigente, é formalizado um Contrato de Repasse entre a CAIXA e o estado, município, Distrito Federal ou entidades das respectivas administrações diretas e indiretas. O repasse é efetivado de acordo com as etapas executadas do empreendimento, desde que devidamente comprovadas. Os recursos são depositados em conta específica, aberta em uma agência da CAIXA, exclusivamente para movimentação de valores relativos à execução do objeto do contrato assinado.

Ações

Apoio à elaboração de planos de reabilitação de áreas urbanas centrais

Objetivo

Apoiar municípios, estados e Distrito Federal na elaboração dos Planos de Reabilitação para:
Estimular a utilização de imóveis urbanos vazios ou subutilizados.
Recuperar moradias localizadas em áreas de risco e insalubres.
Adequar a situação fundiária dos imóveis.
Readequar áreas centrais e equipamentos urbanos.
Estimular o aproveitamento do patrimônio cultural nas áreas centrais.

Modalidades

Elaboração de planos de reabilitação de áreas urbanas centrais.
Elaboração de projetos de infraestrutura e requalificação de espaços de uso público em áreas centrais.

Apoio a projetos de infraestrutura e requalificação de espaços de uso públicos em áreas centrais

Objetivo

Apoiar municípios, estados e Distrito Federal na execução de projetos com ações integradas que resultem na construção e melhoria da infraestrutura dos espaços públicos e na melhoria das condições de vida da população residente e usuária das áreas urbanas centrais.

Solicitação de Recursos

Pode pleitear recursos financeiros do Programa Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, o Chefe do Poder Executivo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ou representante de entidades respectivas administrações direta e indireta, após a seleção pelo Ministério das Cidades.

É condição para seleção da proposta que os governos estaduais, do Distrito Federal e municipais encaminhem ao Ministério das Cidades consulta prévia, conforme modelo constante no Manual do Programa Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, disponível no site do Ministério das Cidades, exceto para aqueles nominalmente identificados no OGU.

Pré-requisitos para enquadramento da proposta

Apresentação de Plano de Trabalho;
Atendimento aos objetivos e às modalidades da Ação pretendida;
Análise preliminar da viabilidade da proposta pela CAIXA.
Ações/Modalidades

Ação apoio à elaboração de planos de reabilitação de áreas urbanas centrais de capitais e municípios integrantes de regiões metropolitanas

MODALIDADE ELABORAÇÃO DE PLANOS DE REABILITAÇÃO DE ÁREAS URBANAS CENTRAIS: contempla a formatação de Planos, Programas e Projetos de Reabilitação, que definem as áreas a serem reabilitadas e o conjunto de ações, estratégias, meios e projetos de intervenções integradas nas áreas centrais, necessários para a requalificação dos espaços urbanos, inclusive abordando os diversos aspectos envolvidos - técnicos, institucionais, jurídicos, sociais, econômicos, culturais e financeiros.

MODALIDADE ELABORAÇÃO DE PROJETOS URBANÍSTICOS DE INFRA-ESTRUTURA E REQUALIFICAÇÃO DE ESPAÇOS DE USO PÚBLICO: contempla a elaboração de projetos básicos e executivos de reabilitação urbana e edilícia, com o objetivo principal de melhorar espaços, estruturas e equipamentos disponíveis nas áreas centrais, necessários para a requalificação dos espaços urbanos degradados e/ou subutilizados. Inclui, também, a elaboração de projetos complementares de equipamentos e infra-estrutura urbanos, paisagismo e urbanização.

MODALIDADE ELABORAÇÃO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS DE REQUALIFICAÇÃO DE IMÓVEIS: contempla a elaboração de projetos arquitetônicos de reabilitação edilícia, com o objetivo principal de utilizar imóveis urbanos ociosos, vazios, abandonados, subutilizados e insalubres, preferencialmente públicos, disponíveis nas áreas centrais, para produção de habitação de interesse social, imóveis de uso público ou misto. Inclui, também, a elaboração de projetos de restauração/recuperação de imóveis históricos para uso habitacional e de projetos complementares de instalações prediais, estrutura, paisagismo, laudos de estado de conservação e capacidade estrutural.

Ação apoio a projetos de infra-estrutura e requalificação de espaços de uso público em áreas centrais de capitais e municípios integrantes de regiões metropolitanas

MODALIDADE EXECUÇÃO DE OBRAS DE INFRA-ESTRUTURA E REQUALIFICAÇÃO DE ESPAÇOS DE USO PÚBLICO: apóia a execução de projetos de implantação, remodelagem, ampliação, melhoria e adequação de infra-estrutura urbana, requalificação e/ou adaptação de espaços e logradouros de uso público em áreas centrais, como praças e demais lugares de convívio social, equipamentos comunitários coletivos e mobiliário urbano.
MODALIDADE EXECUÇÃO DE OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO DE IMÓVEIS PARA USO HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL E PARA TRANSFORMAÇÃO EM USO PÚBLICO: contempla a execução de obras de requalificação e/ou adaptação de edifícios para uso público/comunitário ou para habitação de interesse social ou de uso misto, neste caso, devendo os imóveis estar vinculados a programas habitacionais.

Contrapartida mínima

Os percentuais de contrapartida estabelecidos para este Programa são os mínimos previstos na LDO e devem ser observados pelo proponente, conforme abaixo estabelecido:

No caso de municípios

3% a 5% do valor de repasse da União, para Municípios com até 50 mil habitantes;
5% a 10% do valor de repasse da União, para Municípios situados nas áreas prioritárias definidas no âmbito da PNDR e nas regiões de abrangência da SUDAM e da SUDENE e no Centro-Oeste;
10% a 40% do valor de repasse da União, para os demais Municípios.
No caso de estados e do Distrito Federal
10% a 20%, no caso de operações que beneficiem municípios incluídos nas áreas prioritárias definidas no âmbito da PNDR e nas regiões de abrangência da SUDAM, SUDENE e no Centro-Oeste;
20% a 40%, para os demais estados.

Importante:

Os limites máximos podem ser ampliados, quando indispensável à consecução do empreendimento.

Atendimento às exigências da LRF e LDO

Para a contratação e liberação de recursos, o Proponente Município/Estado deve comprovar:
Previsão orçamentária de contrapartida;
O atendimento a todos os itens do Cadastro único de exigências para transferências voluntárias para Estados e Municípios (Cauc).

Para tomador entidade privada, é necessária a comprovação dos requisitos a seguir:

Regularidade cadastral junto ao INSS;
Regularidade junto à Receita Federal;
Regularidade quanto à dívida ativa da União;
Regularidade com o FGTS;
Regularidade cadastral junto ao SIAFI e ao CADIN;
Atendimento à contrapartida mínima obrigatória, observado o disposto para o Programa.
Prestação de Contas
O Distrito Federal, os estados e os municípios que assinarem contratos de repasse devem encaminhar à CAIXA Prestação de Contas, conforme estabelecido pela Portaria Interministerial MF/MPOG 127, de 29/MAI/2008, e orientações da CAIXA.

O prazo limite para Prestação de Contas Final é de até 30 dias após o término da vigência do contrato ou do último pagamento efetuado, o que ocorrer primeiro.

Repasse dos recursos

Os recursos, provenientes da União para a execução dos contratos de repasse, são liberados, sob bloqueio, na conta corrente vinculada ao contrato, conforme a disponibilidade financeira do Gestor do Programa e desde que o Contratado atenda às exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal.

O saque dos recursos é efetuado após a autorização de início da execução do objeto, com o ateste, pela área técnica da CAIXA, da execução física da etapa solicitada e/ou aquisição prevista, conforme cronograma físico-financeiro aprovado, além da comprovação do depósito da contrapartida financeira correspondente, se for o caso. É necessária, ainda, a identificação, pelo Contratado, antes da realização de cada pagamento, do beneficiário final dos recursos e a obrigatoriedade de depósito em sua conta bancária.

Documentação

O proponente, após prévia seleção do gestor, apresenta o Plano de Trabalho junto com os documentos a seguir elencados, e cumpre o atendimento às exigências da Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei de Responsabilidade Fiscal:

Documentação técnica

Projeto Básico - plantas, orçamento detalhado, cronograma físico- financeiro e especificação técnica dos materiais e serviços a serem executados;
ART de elaboração de todos os projetos;
Comprovação de atendimento às diretrizes de preservação ambiental na área de intervenção, definidas pelos órgãos responsáveis [quando for necessário];
Declaração de anuência com a solução adotada pela concessionária ou órgão responsável pela operação e manutenção do serviço ou equipamento [quando for o caso];
Carta de viabilidade dos órgãos responsáveis pelos serviços de água, esgoto e energia elétrica [quando for o caso];
Outros documentos técnicos necessários à análise da operação.

Documentação institucional

Termo de posse, carteira de identidade e CPF do chefe do Poder Executivo ou de seu representante legal e do representante do interveniente (quando for o caso);

Documentação da área de intervenção

Documentação do trabalho técnico-social
Projeto de Trabalho Técnico Social.
Demais documentos específicos

8 de abril de 2011

Projeto NOVA LUZ - São Paulo

Revitalização do Centro de SP é alvo de críticas dos moradores da região

As cidades crescem sem planejamento, a população ocupa áreas irregularmente. Esse é o roteiro de qualquer grande cidade brasileira. Com isso, chega a violência e as drogas. Para recuperar essas áreas o desafio é monumental.

Em São Paulo começa mais uma batalha pra se livrar da cracolândia, que é um desafio enorme. Só o projeto de recuperação do local já custou milhões, só para fazer o projeto. Essa semana a prefeitura começa a cadastrar os moradores que serão afetados pelas obras na região, mas, mesmo antes de sair do papel, esse projeto enfrenta duras críticas.

Periferias inchadas, regiões perigosas ocupadas irregularmente e um centro com infra-estrutura, sem moradores e sem cuidado. Um roteiro que se repete nas grandes cidades brasileiras e se tornou dramático em São Paulo, onde quarteirões inteiros foram tomados por viciados em drogas.
“Tem ruas em que é complicado andar, não tem como andar tranquilo”, conta o morador Edson Mazoli.

A prefeitura de São Paulo contratou uma empresa de engenharia para reconstruir o bairro da Luz. Mas os comerciantes da conhecida Rua Santa Ifigênia, que concentra lojas de produtos elétricos e eletrônicos, não gostaram.

"Se querem melhorar, que sentassem e negociassem como nós poderíamos melhorar juntos. Eu não acredito em promessa de Papai Noel. Eles encantam a gente com projeto, com construções. Não precisa de construção, precisa de incentivo à região para sobreviver e melhorar. Eles não vêm com intenção de apoio, o projeto vem com intenção de trocar de dono, isso nós não vamos deixar", afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, Joseph Fares Riachi.

Ao todo, 45 quadras passarão por mudanças. Imóveis serão desapropriados, demolidos e reconstruídos, só os tombados pelo patrimônio histórico ficarão de pé. O número de habitações deverá aumentar em 60%, ultrapassando 11 mil unidades. Apenas 20% delas - cerca de 2,5 mil unidades - serão destinadas para os atuais moradores, que estão inseguros.

“Eu, particularmente, não saio do meu apartamento sem ser pago o que vale. Eu só saio morto ou se pagar o valor que vale, não o valor que ele quer”, diz o morador Antonio Magalhães Neto.
“Muita insegurança e muito medo, porque você imagina que a sua vida toda está no bairro, o trabalho, as relações familiares. As pessoas que têm filhos, trabalham e moram perto têm filhos que estudam perto, estão em creches. Não há segurança”, afirma a professora e presidente Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Luz e Santa Ifigênia, Paula Ribas
Tanto conflito mostra a complexidade do projeto, uma das maiores intervenções urbanas já feitas no país.

"Não temos algumas respostas porque, de fato, o projeto é preliminar. Se chegássemos com todas as respostas teríamos um projeto pronto, o que não era a nossa idéia inicial”, diz o chefe da assessoria técnica de planejamento urbano da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Luís Oliveira Ramos.

A Nova Luz ainda é só um projeto e já custou R$ 12 milhões para a prefeitura. A construção de moradias sociais, calçadas mais largas, ciclovias, parques lineares, a reforma do sistema público de iluminação e transporte vai custar muito mais. É o preço que São Paulo paga pela falta de planejamento. Os urbanistas dizem que reformar o que está pronto sempre sai muito mais caro, o que não é um problema só de São Paulo.

As cidades brasileiras crescem como uma mancha de óleo, que vai se espalhando para os lados, para a periferia, enquanto o centro se desfaz. explica o arquiteto e urbanista da USP José Eduardo Lefevre, que completa: “Esse crescimento faz com que áreas rurais sejam transformadas em áreas urbanas e precisem de todo o equipamento de infra-estrutura - ruas, luz, água, serviço de saúde, educação. O que onera toda a infraestrutura e leva também, simultaneamente, ao esvaziamento das áreas centrais, progressivamente transformadas em áreas comerciais.

Os urbanistas também alertam que não basta fazer obras no centro. É preciso criar vantagens e atrativos para que as pessoas voltem a morar nessa região. Para isso, a iniciativa privada tem que participar das transformações, pois são investimentos que só darão resultado em uma década.

FONTE: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/03/revitalizacao-do-centro-de-sp-e-alvo-de-criticas-dos-moradores-da-regiao.html

Para presidente da Viva o Centro, Nova Luz está na ‘direção correta’

O ex-presidente do Banco Central e atual presidente da associação paulistana Viva o Centro, Henrique Meirelles, disse na manhã desta segunda-feira (21) em entrevista à Rádio CBN que o projeto da Nova Luz, que visa revitalizar o Centro de São Paulo, está na direção correta. Meirelles é um dos fundadores da associação e voltou a ficar à frente da Viva Centro na semana passada, após 14 anos afastado.

Para ele, o mais importante atualmente é viabilizar a instalação de empresas e pessoas na região. “O grande desafio agora é fazer um projeto urbanístico de uma intervenção direta do setor público, visando viabilizar que não só empresas [se instalem], mas principalmente residências, e como consequência que profissionais liberais voltem a ocupar o Centro de São Paulo. Porque ele tem não só valor histórico, mas condições logísticas muito boas, de transporte, de comunicação”, afirmou Meirelles.

O projeto da Nova Luz visa conceder à iniciativa privada a revitalização de um trecho do Centro de São Paulo. “O projeto está na direção correta. Vai permitir, se completado, que as empresas concessionárias possam inclusive desapropriar e reconstruir ou revitalizar prédios históricos”, disse Meirelles. “Precisa ter condições, ter a possibilidade de construir edifícios novos, mantendo os edifícios históricos, revitalizar os edifícios antigos. O grande segredo é que isso não funciona quando é um ou outro isolado, precisa ser um movimento em bloco. Onde mude o ambiente físico e humano da cidade.”

Para o ex-presidente do Banco Central, houve um avanço muito grande da situação do Centro de São Paulo nos anos em que ficou afastado da cidade. “O Centro hoje está muito mais cuidado, a segurança melhorou, está mais limpo, eliminou-se a poluição visual, a ocupação está melhor, órgãos públicos voltaram ao Centro. A mudança da Prefeitura para o Vale do Anhangabaú foi absolutamente fundamental, a volta de diversas secretarias de Estado também foi importante. Isso é um processo que ainda está acontecendo, e eu acredito que ainda é o início.”

FONTE: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/03/para-presidente-da-viva-o-centro-nova-luz-esta-na-direcao-correta.html

Morar no centro: discurso e prática

A moradia de interesse social no centro é tema conduzido com total prioridade pela cidade de São Paulo, que desenvolve o maior programa de reforma de prédios para fins habitacionais –Renova Centro—, sem precedentes na história do país, pela escala e compromissos assumidos. Há décadas, o assunto desperta debates acalorados e acabou cristalizando análises fantasiosas. Logo de início, os técnicos da prefeitura perceberam que uma coisa é o discurso político contundente, a outra, bem diferente, é a prática.

O primeiro mito construído sobre o assunto foi o do centro-fantasma. Pela primeira vez, no Censo de 2000, o IBGE tentou medir o número de imóveis vagos. O indicador –praticamente experimental– tornou-se polêmico, pois apontou números elevados. Segundo a pesquisa, haveria 402 mil imóveis vazios em todo o município, equivalente a 12% do total.

O primeiro conceito ignorado nas discussões foi o de quanto deveria ser a taxa de vacância de equilíbrio, de 8% dos imóveis, referente ao período entre uma transação e outra. Dados da mesma época (1999), que apresentavam a taxa de vacância de edifícios comerciais da cidade, apontavam que o centro registrava 19%, a mesma da Avenida Faria Lima, pouco superior à do Itaim (16%) ou da Avenida Paulista (13%).

Outros estudos realizados pela Sehab, em 2003, e pelo Metrô, em 2010, indicaram percentual de imóveis vagos de apenas 9% e 7%, respectivamente, nos distritos da Sé e da República. Praticamente nada além da vacância de equilíbrio. Semelhante indicador (6%) é encontrado em Nova York, uma das cidades mais desejadas no mundo para se viver.
A Cohab contratou, em 2009, a Fupam (Fundação para Pesquisa em Arquitetura e Ambiente, da USP) para identificar imóveis desocupados na região central aptos para fins habitacionais. O trabalho partiu da verificação de todos os levantamentos disponíveis já elaborados sobre o tema. Das diferentes listas consultadas e das visitas realizadas em campo, excluíram-se os de pequeno porte, construções térreas, em ruínas, invadidas ou incompatíveis com o uso proposto.

Converter edifícios desocupados em habitação é desafio realmente complexo. Os que já foram reformados em São Paulo ensinam que a obra exige, inicialmente, sofisticada avaliação da estrutura existente. Todas as instalações originais (hidráulica e elétrica) têm que ser removidas e muitas vezes é preciso encontrar outros caminhos para percorrer.
As regras para evacuação de edifícios em caso de incêndio mudaram. Novas escadas, com portas corta-fogo, e novas aberturas de janelas que impeçam a propagação de incêndios terão de ser feitas. Abrir espaço para escadas em prédios que ocupam praticamente todo o terreno é muito difícil. Parte dos imóveis comerciais, geminados e encaixados entre vizinhos, não recebem insolação suficiente. A legislação não permite fazer residências que não recebam sol. Para completar, a administração da obra tem de lidar com a restrição de horário para os caminhões de entrega e retirada de material e com a impossibilidade de estacionamento.

Construções muito pequenas não permitem que os custos dos laudos técnicos, dos projetos e da obra sejam diluídos no custo das unidades sem exceder os limites. Assim, descartando os que não se adequavam, foram apontados 53, que, neste momento, estão todos em processo de desapropriação. Mesmo reconhecendo todos esses obstáculos e dificuldades, a prefeitura aceitou o desafio e planeja entregar, em 2012, as primeiras unidades, das mais de 2.500 previstas.

O Renova Centro não é o único instrumento para lidar com o esvaziamento da região. A implantação do IPTU Progressivo, que começa a vigorar em 2011, constitui mais uma ação. Outra iniciativa são as operações urbanas Lapa/Brás e Mooca/Vila Carioca, cujos termos de referência estão em consulta pública, e que propõem, justamente, trazer moradores para a região de São Paulo mais bem servida de infraestrutura. Ambas também prevêem produção de habitação de interesse social (HIS). Da mesma forma, a concessão urbanística da Nova Luz também prevê a construção de unidades de HIS.

Em tempo: na verdade, agora não são 53 edifícios os incluídos no Renova Centro, e sim 52. A ocupação de um deles, na Avenida São João, obrigou a Prefeitura a paralisar o processo de desapropriação amigável, pois a legislação estabelece que os imóveis devam estar vazios para serem desapropriados.

(Ricardo Pereira Leite é engenheiro formado pela Poli-USP, com especialização em finanças pela FGV e mestrado em arquitetura e urbanismo pela FAU-USP e secretário de Habitação de São Paulo.
Fábio Mariz Gonçalves é arquiteto e urbanista formado pela FAU-USP, com doutorado em estruturas ambientais urbanas pela mesma instituição em que leciona desde 1989.)

FONTE: http://www.cadernosp.com.br/opiniao/2384/morar-no-centro-discurso-e-pratica/

Operações urbanas financiam, pela primeira vez em SP, obras de habitação de interesse social

Pela primeira vez na história de São Paulo, habitações de interesse social (HIS) estão sendo construídas com verba das operações urbanas em curso. Operações urbanas são projetos de melhoria ambiental e de infraestrutura em áreas determinadas da cidade, financiados pela venda de potencial construtivo. Com isso, empreendedores podem erguer edificações maiores do que o coeficiente básico permitido na Lei de Uso e Ocupação do Solo, mediante pagamento. Nas quatro operações em vigor, apenas grandes obras viárias haviam sido contempladas com a verba arrecadada.

Na região da Água Espraiada, por exemplo, três áreas estão em início de obras para a construção de 814 unidades habitacionais com verba da Operação Urbana Consorciada Água Espraiada. As moradias estão divididas em três regiões: Jardim Edite, Corruíras e Estevão Baião. Todas tiveram início neste mês. A verba para construção é oriunda da venda dos Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção).

No Jardim Edite, no Brooklin, serão construídas 249 unidades habitacionais divididas em dois tipos. Um com cinco pavimentos, com dois quartos, sala, cozinha, banheiro, distribuídos em 50 m² de área útil, e outro composto por 3 torres com 16 andares e 52 m². Este último possui a inovação da utilização de elevadores.

Estas unidades serão destinadas às famílias que moravam na favela do Jardim Edite e hoje aguardam em aluguel social. O projeto envolve ainda a construção de uma Assistência Médica Ambulatorial (AMA), uma Unidade Básica de Saúde (UBS), uma creche e um restaurante-escola (local onde se ministram aulas de gastronomia). A valor da licitação da obra é de R$ 40 milhões e a previsão de conclusão é de 18 meses.

Já o projeto para a região do Corruíras, localizado na zona sul, no distrito do Jabaquara, prevê a construção de 241 unidades habitacionais com área aproximada de 50 m² cada uma. Com licitação no valor de R$ 32 milhões, o empreendimento será destinado a população que será removida da favela Levanta Saia, no Campo Belo, para o prolongamento da Avenida Jornalista Roberto Marinho, junto ao Córrego Água Espraiada. O conjunto habitacional terá dois blocos com 7 e 9 pavimentos cada um. O prazo do término das obras é 18 meses.

O terceiro projeto está divido em três áreas de provisão (regiões destinados à construção de habitações) localizadas em Estevão Baião, Casemiro de Abreu e Iguaçu, no distrito de Campo Belo. O projeto prevê reassentamento de 324 famílias que serão transferidas das favelas Água Espraiada, Sônia Ribeiro e Emboabas, situadas ao longo da Avenida Jornalista Roberto Marinho.

Na área de provisão Estevão Baião, estão previstos 4 blocos com 4 unidades por andar, compostos por dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço, totalizando 200 unidades. Em Casemiro de Abreu, serão construídos edifícios de 5 e 6 pavimentos, totalizando 84 unidades. Já na provisão de Iguaçu e Gutemberg, o projeto estabelece a implantação de dois edifícios, um com 4 e outro 5 pavimentos. Cada um possui 4 unidades por andar, totalizando mais 40 moradias. A previsão de construção é de 24 meses, com licitação no valor de R$ 43 milhões.

Todos os condomínios são fechados com gradis, muros e portões. Possuem áreas de lazer coberta e descoberta, jardins, playground, quiosque, quadras de esporte e paisagismo.

Além desses empreendimentos, por meio da Operação Urbana Faria Lima, desde outubro deste ano, estão sendo construídas 1.135 unidades habitacionais no Real Parque, zona sul, e revitalizadas mais 834 unidades do antigo Cingapura. A duração das obras é de 30 meses. (Clique aqui e confira a matéria).

“Trata-se de um momento importantíssimo para a cidade de São Paulo, principalmente para as famílias de baixa renda que há tanto tempo lutam para ter moradia digna nessas regiões valorizadas da cidade, onde residem há anos, mas das quais acabavam removidas por causa das obras viárias”, afirma Elisabete França, Superintendente de Habitação Popular e Secretária Adjunta da Secretaria Municipal de Habitação.

FONTE: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/noticias/?p=23970

Cidade não pode ter guetos, diz arquiteto do Centro Pompidou

Se tivesse feito uma única obra, o Centro Georges Pompidou, em Paris, o arquiteto Richard Rogers já teria entrado para a história. O Beaubourg quebrou a assepsia que dominava os prédios dos anos 70 e antecipou o conceito de museus para grandes massas.

Mas Rogers fez muito mais: criou o mais contemporâneo dos aeroportos (o terminal cinco de Heathrow, em Londres) e arranha-céus antológicos, como as sedes da Lloyds, em Londres, e da TV japonesa, em Tóquio.

Aos 81 anos, deve fazer os seus primeiros trabalhos no Brasil. Esteve aqui por duas semanas para discutir projetos no Rio (ligados às Olimpíadas de 2016) e em São Paulo (com a prefeitura).

À Folha, o esquerdista que tem o título de barão defende que as cidades não podem virar guetos de ricos ou de pobres. "Um área só para ricos contraria a ideia de cidade."

Folha - Os arquitetos repetem que São Paulo e Rio são um desastre. O trânsito é horrível, não há áreas verdes e há favelas por todos os lados. O sr. concorda?
Richard Rogers - Não. O Rio é a cidade mais bonita que já vi. A paisagem é maravilhosa. Há praias por todos os cantos, o calçadão criado por Burle Marx é fantástico, em qualquer lugar que você vá é possível ver as montanhas e o mar.
Visitei Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, a favela que tem um elevador. O problema social é terrível, há esgoto correndo nas ruas, há lixo em toda a parte. Mas esse não é um problema só do Rio: é um problema global. O terrível é a diferença de renda entre os mais pobres e os mais ricos.

O sr. viu as obras que foram feitas nessa favela?
Gostei das mudanças, principalmente do elevador. É um bom começo porque aproxima a favela da cidade. O problema é como distribuir os benefícios da cidade nessas áreas, como fazer os ricos ficarem mais próximos das favelas e como fazer a favela ficar mais perto dos ricos. Essa mistura é essencial para integrar esses dois mundos.

O sr. acha que é possível integrar mundos tão separados?
A integração é a única solução para as cidades. Em Londres, não temos favelas. Mas temos pessoas vivendo em habitações sociais, que são subsidiadas pelo governo. São prédios privados, nos quais o governo pode colocar pessoas pobres na porta ao lado de alguém muito rico. Um área só para ricos contraria a ideia de cidade.

O que fazer quando ricos não querem pobres ao lado?
O sistema londrino obriga bairros ricos a terem habitações sociais. Esse tipo de sistema já é aplicado na Holanda, na Dinamarca e na Suécia. É preciso criar leis para ter essa integração.
O problema de pobres e ricos no Brasil é igual ao que existia entre brancos e negros nos Estados Unidos. Cidades não podem ter guetos, seja para negros ou pobres.

O sr. acredita em soluções para o trânsito com avenidas?
Isso é impossível. Não há soluções para o trânsito com carros. Estradas e avenidas para carros ocupam 60% da área de Los Angeles. É uma estupidez. Quanto mais estradas você abre, mais congestionamento você terá.
É preciso ter um sistema de transporte público realmente bom. Londres proibiu a abertura de estacionamentos na área central. Também é preciso controlar o número de carros que não estão em condições razoáveis. Há ainda pedágio para entrar no centro de Londres.
Tudo isso ajudou a criar um dos melhores sistemas de transporte público do mundo. Em Londres, 93% das pessoas usam transporte público.

O sistema de ônibus em Curitiba seria uma solução para cidades mais pobres?
Claro. Você precisa ter metrô e ônibus de alta qualidade. É inacreditável que em São Paulo as pessoas aceitem andar de carro a dez quilômetros por hora. A pé é mais rápido. É preciso cobrar mais impostos de carros para melhorar o transporte público.

O que São Paulo pode fazer?
Cingapura, como Curitiba, é um bom modelo. Lá, os impostos de carros são altíssimos e há pedágio no centro. É preciso restringir carros para ter mais espaço público. Espaço público é a principal razão para as pessoas gostarem de viver em cidades.

Como uma cidade faz para ter mais espaços públicos?
Precisa ter parques em todos os distritos. Curitiba fez isso. Jaime Lerner fez um trabalho brilhante. Curitiba é um modelo mundial. Um dos segredos é controlar as forças do mercado.

Como se faz isso?
As cidades precisam de leis para controlar as forças do mercado. Ajudei o primeiro ministro Tony Blair a preparar um plano para as cidades governadas pelo Partido Trabalhista.
O plano dizia que as pessoas têm direito a espaços públicos, assim como têm direito a água. Que as cidades devem ter leis que obriguem bairros ricos a ter habitações sociais. E têm de limitar os carros no centro.
Durante a crise de 2009, o ex-presidente Lula reduziu os impostos de carros para manter os empregos e as vendas.
Não é uma boa ideia. Emprego é uma questão séria, mas é preciso adotar soluções que não levem à desertificação do mundo ou ao fim da floresta amazônica. Um terço da poluição do mundo vem dos carros. Reduzir imposto de carro não faz o menor sentido hoje.

O sr. e Renzo Piano criaram na metade dos anos 70 o Beaubourg, em Paris. Por que ele fascina tanto as pessoas?
SP e Rio têm prédios brilhantes de arquitetura moderna, como os de Niemeyer. Mas em Paris não havia isso. Foi uma surpresa. Fizemos um prédio para abrigar todos os tipos de pessoa e que tivesse interação com a cidade. O Beaubourg é popular porque é um palácio da diversão.

O governo de SP tenta recuperar uma área degradada, a Luz, com museus e salas de concerto. Isso funciona?
Não. Você precisa de usos mistos para recuperar uma área. Não faz sentido uma área só com shopping ou escritórios. Os governos estão fascinados com museus, mas só isso não funciona.
Meu escritório fica numa área de Londres onde as pessoas não podiam ir há 15 anos de tão perigosa que era. Hoje é uma das melhores áreas de Londres. Isso ocorreu porque há escritórios, moradias e museus. Quanto mais misturado, melhor.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/895068-cidade-nao-pode-ter-guetos-diz-arquiteto-do-centro-pompidou.shtml

3 de abril de 2011

Relatório da viajem a São Paulo

Na primeira parte do percurso, aproveitamos o tempo que teríamos até a hora marcada com os professores, para visitarmos alguns pontos turísticos nas proximidades do vale do Anhangabaú. Eu, mais alguns colegas participamos duas visitas guiadas gratuitas. A primeira, ao edifício Martinelli, com todos seus atrativos arquitetônicos e históricos. E ao Edifício Altino Arantes, o segundo maior edifício de São Paulo, que se destaca no cenário verticalizado da capital com sua bandeira do Estado de São Paulo.

Esta região do centro, além de muito adensada possui um caráter extremamente comercial, aparentemente parece que a maioria dos edifícios é ocupada por empresas e escritórios. Neste dia ele estava muito ocupado e frequentado, por pessoas bem vestidas (de terno apesar do calor).
Depois destas visitas, atravessamos o vale do Anhangabaú em direção a Galeria do Rock. No caminho passamos pela Praça dos Correios e entramos num prédio Neoclássico dos Correios, em que estava havendo uma exposição. Este prédio parecia ter passado por uma revitalização recente, em que havia sido estalada uma claraboia no pátio central, muito semelhante a iluminação zenital da Pinacoteca.

Enfim chegamos a Galeria do Rock... As gurias foram as compras, enquanto eu fiquei tirando algumas fotos. O que mais me marcou, foi a quantidade de japoneses ou chineses e até o momento, não encontrei algum paulistano com sotaque original nesta cidade. Almoçamos e fizemos o mesmo percurso até o encontro dos professores em frente ao Salve Jorge.
Ao encontrarmos os professores, iniciamos a caminhada direcionada. Foi ai que conhecemos o peculiar guarda-chuva vermelho do Marcelo Maia, que serviu como ponto de referencia a ser perseguido pelos alunos. Logo no primeiro momento, atravessamos o Pateo do Collegio e avistamos o “Monumento Glória Imortal aos Fundadores de SP”. Nesta região a altura dos edifícios já diminuiu, e a quantidade de prédios antigos também.

Caminhamos mais um pouco e chegamos ao viaduto Rangel Pestana sobre a Avenida do Estado, Parque Dom Pedro II e rio Tamanduateí. Sob este viaduto havia muitos moradores de rua e até mesmo algo parecido como um projeto social. Ao chegarmos ao outro lado, foi evidente o papel destas barreiras no senário urbano. De um lado o centro comercial e financeiro, com atrativos culturais e sociais. Uma área formal, muito bem consolidada e com uma grande infraestrutura. E do outro lado desta barreira natural (artificial também) uma região que eu definiria como informal, apesar de não ser caracterizado por edificações irregulares (ou não), possuir uma infraestrutura tão qualificada quanto a outra, se apresenta muito degradada devido a um uso obsoleto.

Mais adiante, na Rua do Gasômetro passamos pelo Gasômetro, uma edificação de tijolos a vista muito interessante e com grande potencial para se tornar um dispositivo de interesse social. Seguindo, passamos pelo Palácio das Indústrias – Catavento e os Edifícios São Vito e Mercúrio que estão sendo demolidos num processo demorado e cuidadoso, para não atrapalhar o transito da Avenida do Estado e causar danos a bens tombados do entorno, como o Mercado Municipal. Além destes edifícios o Viaduto Diário Popular também será demolido. A principio parece que a prefeitura não tem a definição exata de todas as obras que compreendem esta operação urbana. Dando margem a uma proposta.

Continuando nossa caminhada, passamos pelo Pátio do Pari, que é um dos maiores pátios ferroviários da cidade e delimita três áreas distintas em seu entorno: uma voltada ao comercio especializado de cereais, outra ao comercio de roupas e uma terceira que abriga habitação de baixa renda. Dai voltamos a atravessar o Rio Tamanduateí e entramos no Mercado Municipal, com direito a intervalo de 30 minutos para conhecê-lo.

Foi ai que eu tirei a prova se o sanduiche de mortadela, realmente tinha mortadela... E como tinha... Isto se trata de um sanduiche com nada menos que 200gramas de mortadela... Um exagero, mas muito bom. Depois de reabastecer nossas energias, continuamos nosso diagnostico urbano. Seguimos caminhando em direção a Estação da Luz e no caminho passamos ainda pela Rua 25 de Março.

Enfim chegamos a charmosa Estação da Luz. Tiramos muitas outras fotos e reparei sobre um projeto que a prefeitura parece estar desenvolvendo na região, a Nova Luz. Caminhamos até a Estação Júlio Prestes aonde pegamos o metrô até a estação da Republica. Ao sairmos da estação, já avistamos os Ed. Copam E Itália, dois gigantes no cenário urbano. E esta região já pareceu ser mais heterogenia, tanto com uso comercial quanto residencial.

Então estávamos ali, embaixo do Ed. Copam, quando a tão famosa garoa paulista começou a cair, e decidimos encerrar os diagnósticos urbanos de sexta-feira. Alguns alunos voltaram para o hotel, eu permaneci com um gruo que queria estender os passeios mais um pouco. Então antes de ir ao hotel, nós passamos ainda em um boteco nas proximidades do Ed. Itália, depois em um restaurante Italiano no bairro Bexiga, e por mim ainda fomos a uma boate no Bairro Vila Madalena. Neste dia dormi por volta das 5horas da manha de sábado.

Enfim chegamos a nossa ultima caminhada-diagnostico, agora estamos em frente a Estação de Metrô do Brás, e iniciamos nossa caminhada por uma área cheia de edificações baixas, ou de uso comercial ou misto. A maioria das lojas é especializada no comercio de roupas e artigos eletrônicos. Atravessamos o Largo da Concordia e seguimos pelo Viaduto Gasômetro e tivemos uma vista melhor da região, que apresento muitos prédios deteriorados e aparentemente invadidos. Com muitas moradias de baixa renda. Do outro lado no trilho do metro, encontramos também muitas lojas têxteis, mas a diversidade do comercio aumentou. Ali existiam lojas de esquadrias, carros, entre outras.
Voltamos para o Largo da Concordia pela Av. Rangel Pestana e encerramos ali os diagnósticos dirigidos. E encerramos ali a nossa caminhada direcionada.

Diagnostico do Aeroporto de Confins

Quinta-feira 17 de março de 2011 – 13h16min.
Acabamos de embarcar na aeronave, após uma espera de aproximadamente duas horas. Durante este período de espera eu, Lucas e Roubens percorremos o aeroporto a procura de um local confortável para aguardar o embarque e tomar um café.
O aeroporto de Confins é muito interessante devido a articulação de espaços abertos e fechados, possibilitando uma agradável ventilação natural e pontuais claraboias, que iluminam o terceiro pavimento, em que é possível visualizar a pista.
Por outro lado, é impossível encontrar locais de acesso gratuito que ofereçam o conforto necessário para tornar o tempo de espera menor. Até mesmo a organização das poltronas dispostas uma do lado da outra me deixaram com um incomodo torcicolo. A impressão que tenho é que se trata de um espaço com o objetivo de evitar a interação entre quem esta ali.
Outra questão é que, não sei se pelo fato das poltronas deste forem iguais as do aeroporto de Brasília, Porto Alegre e de São Paulo (deve ser iguais a vários outros, porem só posso afirmar com certeza estes) ou somente pela falta de mobiliário. Identifiquei uma falta de identidade. Falta de características próprias e únicas que distinguiriam o Aeroporto de Confins dos demais. Para mim este é o aeroporto longe pra caramba.

4 de março de 2011

Visita Técnica

Moradores dos baixios do viaduto da Av. Cristiano Machado com a Rua Jacui Bairro da Graça - Belo Horizonte.

Entrevista de Ermínia Maricato

Especulação da terra inviabiliza moradia popular

Participaram: Bárbara Mengardo, Gabriela Moncau, Hamilton Octavio de Souza, Júio Delmanto, Lúia Rodrigues, Otávio Nagoya, Tatiana Merlino.

A arquiteta Ermínia Maricato tem uma longa trajetória de reflexão teórica e enfrentamento dos problemas urbanos, como profissional e como militante do PT. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, coordenadora do programa de pós-graduação (1998-2002), foi também secretária de Habitação de São Paulo (1989-1992) e secretária-executiva do Ministério das Cidades (2003-2005). Na entrevista a seguir ela faz uma análise profunda e reveladora da situação caótica das cidades brasileiras. Vale a pena ler.

Hamilton Octávio de Souza - Onde você nasceu? O que estudou? Fale sobre a sua trajetória.
Ermínia Maricato - Eu nasci no interior do Estado de São Paulo, em uma cidade chamada Santa Ernestina, mas vim muito cedo para São Paulo. Meu pai foi camponês, mas se tornou um pequeno empresário, tinha uma granja de aves. A família é três quartos italiana e um quarto portuguesa. Nós tivemos que vir para São Paulo porque a minha mãe tinha uma doença, hoje eu sei que é psíquica, mas no interior nós não sabíamos bem o que era. Com 5 anos eu vim para São Paulo, estudei em escola pública, que era maravilhosa, morei no Brás e, enfim, sempre gostei muito de estudar, minha mãe não queria que eu estudasse, o meu pai me deu toda a força, acho que não tem tanta novidade aí. Foi um período em que era possível um filho de europeu, mesmo que viesse do campo, era fácil ter ascensão social em São Paulo. Foi o que aconteceu com o meu pai, ele amealhou um certo patrimoniozinho, então não é a mesma condição que o filho de camponês brasileiro, que tem origem muitas vezes na herança escrava, uma condição diferente. Bem, eu fiz química industrial no nível médio, comecei a faculdade de física na USP, depois é que eu passei para arquitetura; mas hoje eu acho que errei, estou muito apaixonada pela terra, por agricultura, por agricultura orgânica. Atualmente pertenço a uma associação que tem uma gleba de Mata Atlântica e nós estamos fazendo um pomar de frutas em extinção da Mata Atlântica, esse é o meu hobby atual. Então eu estou tão encantada, tão impressionada com a força e a exuberância da Mata Atlântica que fico pensando como nós conseguimos destruir essa riqueza.

Lúcia Rodrigues - Como surgiu essa ideia?
A associação já existia. Eu cheguei em um amigo e falei: acho que a gente devia comprar um pedaço de mata para deixar lá. E aí ele falou: mas eu já estou em um lugar que tem isso e tal. Aí eu fui, me encantei, entrei na diretoria. Temos uma médica homeopata como presidente, temos várias tribos ali, temos sete nascentes de água, então nós estamos trabalhando no tratamento e distribuição dessa água e agora nós passaremos a discutir o lixo, o esgoto.

Tatiana Merlino - Onde é?
Fica a uma hora de São Paulo, em São Lourenço da Serra. Então é a minha paixão atual e eu fiquei muito impressionada de como é que eu não fui para a agricultura, pois tem muito a ver com a questão ambiental. Eu comi uma fruta quando era criança e morava no interior que chamava pindaíva, é uma fruta lindíssima, vermelha, parece uma fruta do conde, ela é de uma árvore muito alta e aí eu falei: Mas cadê a fruta? Não existe mais. Então eu fui pesquisar e consegui, depois de muito procurar, achar uma muda da pindaíva, hoje nós plantamos quatro mudas lá no vale e aí tem outras frutas que eu nem sei o que são, comprei outras mudas, fui atrás, agora eu estou pesquisando isso. Lá tem uns malucos que entram na mata, pegam semente, estão plantando, tem um pessoal interessante. Eu gosto mais de falar disso do que falar de cidade, meu Deus do céu. O que eu quero deixar de fundamental em relação a questão urbana é que as cidades vão piorar.

Lúcia Rodrigues - Mais ainda?
Muito, muito.

Lúcia Rodrigues - Por que, professora?
Porque não tem nada sendo feito para contrariar o rumo.

Júlio Delmanto - As cidades que você diz não são só as grandes, né?
Não só as grandes, porque as cidades que mais crescem atualmente são as médias no Brasil, não são as metrópoles, as metrópoles deram uma recuada, desde a década de 80 as metrópoles estão crescendo menos e as cidades médias estão crescendo mais.

Tatiana Merlino - Nada está sendo feito nos âmbitos federal, estadual e municipal?
Não é só uma questão de governo. Primeiro não é uma questão restrita a governo, é uma questão do capitalismo periférico, eu quero fazer questão de falar isso porque muita gente fala: ah! falta vontade política! Eu vou dizer que tem problemas que são estruturais. Um deles: o mercado residencial, no capitalismo periférico, atinge uma pequena parte da população. Até 2004, quando começa uma mudança na política habitacional, da qual eu fiz parte, o mercado brasileiro produzia para 20% da população. Em São Luís (MA) é para 10% da população. Eu fico pensando, pela minha experiência, que São Paulo, por exemplo, chega a 40% da população, mas quando você vai para São Luís ou Belém (PA), o mercado não chega a 10% da população. O mercado, esse sim, segue a lei, que tem um investimento, às vezes tem um financiamento, ou às vezes até mesmo a empresa incorpora o teu financiamento, você faz um projeto que é aprovado na prefeitura de acordo com a legislação de código de obras, legislação de parcelamento do solo, legislação de zoneamento, aí isso é lançado, tem compradores que também podem ter um financiamento. Isso é o que? No Canadá, na Europa, nos EUA isso atinge de 70 a 80% da população. No Canadá isso é muito claro: 30% da população precisa de subsídio para comprar moradia. Aqui no Brasil é o oposto: tem 70% da população. Varia de cidade, de região, se tem uma classe média maior, esse número é maior, se você tem uma classe média menor, como as cidades do Norte e Nordeste, esse número é menor. Então, vivemos em uma sociedade em que uma parte da população se vira, ela não se integra ao mercado e não tem política pública para chegar nela. O financiamento, o investimento público habitacional ampliou muito a partir de 2004, é impressionante o aumento nos últimos anos. Mas na sociedade brasileira a classe média não entra no mercado. O que quer dizer que a classe média não entra no mercado? O policial, o funcionário da USP, o professor secundário mora em favela, isso é uma coisa comum. Então, o Brasil é um país típico de capitalismo periférico, onde um trabalhador regularmente empregado, com estabilidade no emprego, que é o caso de um funcionário público, não tem acesso à moradia no mercado.

Tatiana Merlino - Esse “se vira” a que você se referiu é equivalente ao déficit habitacional que há no Brasil?
É mais do que o déficit.

Tatiana Merlino - Qual é o déficit habitacional hoje do Brasil?
Olha, o déficit deve estar entre os 7 e 8 milhões, o déficit é sempre uma coisa que deve ser discutida, né? O que você considera déficit? Uma das questões que discutimos no ministério, por exemplo, é que o IBGE considera déficit a convivência de famílias e às vezes é uma decisão sua conviver com mais de uma família. Então, devo ou não considerar isso déficit? O que eu quero dizer é o seguinte: “parte da população brasileira se vira” significa que ela arruma terra, eu tenho muita restrição para usar a palavra invadindo, porque os movimentos sociais não gostam, digamos que ocupando ilegalmente, mas esse ocupando ilegalmente é uma coisa muito vasta. E construindo as próprias casas, como o Chico de Oliveira mostrou em um artigo que ficou clássico, em 1972, que essa autoconstrução, essas ocupações ilegais não eram uma coisa espontânea ou decisão deles, aquilo era o resultado do rebaixamento da força de trabalho, quer dizer uma força de trabalho que não ganha para comprar uma casa, para pagar para alguém construir, mas não dentro da lei, não é dentro do mercado, não consegue comprar a terra. E a terra é um capítulo a parte. Então essa condição de ilegalidade é geral no Brasil. Tem um município perto de Belém, Ananindeua, ou outros municípios na periferia de Recife, Salvador, Fortaleza, onde 90% dos domicílios são ilegais. Quando você chega à região metropolitana de Fortaleza o próprio IBGE dá 33% da chamada sub-habitação. Nós temos alguns estudos, não temos dados fidedignos, mas isso já mostra um pouco o que é a realidade brasileira. Quanto por cento da população brasileira mora em favela? Tem alguns trabalhos que mostram que há uma grande diferença de uma cidade para outra no Brasil, mas que a exceção que seria uma casa ilegal, construída completamente fora da lei em uma terra ocupada de forma completamente irregular, construída aos poucos, sem qualquer conhecimento de engenheiro ou arquiteto etc., é regra, não é mais exceção. Veja bem, o que era para ser exceção virou regra e o que era para ser regra virou exceção.

Tatiana Merlino - Essa é uma característica do capitalismo periférico?
É. Você vê isso no mundo inteirinho e varia um pouco em cada país. A Argentina, que já teve uma condição muito melhor socialmente na América Latina, agora está em uma situação dramática. Na Argentina você tinha menos disso, algo em torno de 20 ou 30 anos atrás, ela era mais formal, a cidade na Argentina. Fui convidada para ir a um encontro sobre moradores de rua na Argentina, eles ficaram encantados com a nossa política de morador de rua e aí eu falei: Bom, mas vocês não tinham porque vocês não tinham morador de rua e no Brasil tem há muito tempo. Se você vai para o Chile você tem uma formalidade maior na cidade, tem uma classe média mais forte. Agora o resto, Bolívia, Venezuela, que eu andei pelos morros em volta de Caracas, o próprio México, você tem uma situação que é pior do que algumas metrópoles brasileiras, porque o Brasil tem algumas coisas que são mais ricas e algumas coisas que são mais pobres.

Hamilton Octávio de Souza - Mas esse processo não está sendo revertido?
Ao contrário, as cidades do mundo estão se empobrecendo. Se você pegar a África é impressionante o que está acontecendo.

Hamilton Octávio de Souza - E São Paulo? O que acontece em São Paulo?
São Paulo está assim: o município concentra, se não me engano, 22% da população que ganha acima de 20 salários mínimos do Brasil. Então você tem uma grande concentração de renda em São Paulo, Ribeirão Preto, Santos, e Brasília – no plano piloto. Então você tem uma condição de expulsão da população desses municípios mais ricos.

Hamilton Octávio de Souza - A favelização aqui tem sido crescente, não tem? Desde a década de 50?
Mas muito mais nas periferias. Se eu pegar Cajamar, Franco da Rocha, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, você tem uma periferização com o aumento da violência, com uma queda geral de índices e a gente trabalha com média, o que é complicado.

Lúcia Rodrigues - A concentração do capital é o que está levando ao empobrecimento das cidades, é isso?
Não é só. Você tem assim uma tradição de desigualdade histórica, você tem nesses países essa questão estrutural da informalidade tanto no trabalho quanto na ocupação do solo, então nós temos ilhas que são cidades do primeiro mundo, isso é tudo inadequado. Por isso que eu acho engraçado dizer que a questão é técnica. Na verdade nós copiamos a lei de zoneamento, toda a legislação do primeiro mundo e aí a gente garante uma ilha onde o resto não cabe. Para inserir a população pobre nessa cidade eu preciso transformar o conjunto, isso foi o que discutimos no Fórum Urbano Mundial e no Fórum Social Urbano.

Júlio Delmanto - Existe alguma diferença entre esses países que são chamados em desenvolvimento em relação ao resto da periferia?
Sim. O Brasil é diferente. É uma economia forte. É um player internacional. Ele passou de “nada dava certo” para “país do futuro” ou “do presente”. Mas a desigualdade é uma coisa escandalosa no Brasil. A África do Sul me impactou porque ela saiu do apartheid, em que a segregação, diferentemente da nossa, era jurídica. Então você não podia ir para a cidade se você fosse negro, a menos que você tivesse um passe. Vencer essa segregação quando o Mandela ganhou parecia fácil. Mas existe um problema que está atingindo todo o terceiro mundo que é a questão da terra. A questão da terra não foi superada com a luta contra o apartheid. Aliás, foi uma coisa que me impressionou muito, que eu ouvi de vários líderes: se a terra tivesse entrado em negociação, a paz não acontecia.

Hamilton Octavio de Souza - O que é a questão da terra? É a terra urbana?
É a terra urbana e rural. A terra está na essência da alma brasileira. A desigualdade no Brasil passa essencialmente pela questão fundiária. Campo e cidade. Só terminando a história dessa segregação, não tem nenhum mistério. Uma parte da população constrói as casas, constrói fora da lei e não tem lugar nas cidades. Às vezes os planos diretores não disseram onde os jovens iam morar, porque todo plano diretor é seguido de uma lei de zoneamento e a lei de zoneamento é lei para o mercado, e a nossa população tá fora do mercado. Então os urbanistas estão trabalhando em um espaço de ficção, com realidade de ficção. Aliás, essa ausência dos engenheiros nem se fala. Eu quero falar depois do estrago que a engenharia fez em São Paulo.

Lúcia Rodrigues - Essas leis que você citou funcionam?
Nada. O estatuto da cidade é um sucesso no mundo. Do Brasil para o mundo. Eu sou convidada a consultoria internacional o tempo todo por conta do estatuto da cidade. Eu fui a poucos lugares, mas para onde eu fui eu falei que não está sendo aplicado no Brasil. Não está sendo aplicado.

Tatiana Merlino - Existe uma política habitacional para resolver essa questão do controle do solo?
Lei nós temos. O estatuto da cidade é ótimo. Constituição Federal nós temos. Só que nós não aplicamos a função social da propriedade. Só terminando aquilo. A nossa lógica é que a mão de obra barata de que o Celso Furtado falava muito, que garante a exportação de riqueza, que garante uma elite conspícua, que é patrimonialista, que se agarrou a este Estado e fez dele o que fez, tem a lógica de que nós temos que ter uma mão de obra absolutamente rebaixada no seu preço para poder segurar essa relação.

Lúcia Rodrigues - Mas isso não é anticapitalista? Por que se você tem gente ganhando mais, injeta força e fluxo no mercado.
É engraçado isso. Porque o Ford descobriu que os operários precisavam ganhar melhor para que o capitalismo fosse melhor em 1905, início do século 20. Não é essa a lógica no Brasil. Inclusive uma das coisas que nós nos perguntamos é se o capitalismo brasileiro, principalmente a burguesia nacional, porque as transnacionais não estão nem aí se vão esgotar as reservas, se as cidades vão virar um negócio inviável, pretende se tornar viável. O capitalismo no Brasil não está preocupado em viabilizar. As nossas cidades estão ficando inviáveis. O automóvel está inviabilizando não só São Paulo, mas todas as cidades brasileiras. Brasília está também com um problema seríssimo de trânsito. Então você tem um problema que também é estrutural. A indústria automobilística é responsável por 20% do PIB do mundo, se eu colocar a exploração de petróleo, a distribuição de petróleo, toda a indústria da borracha, das autopeças. E todas as obras nas cidades são uma questão de infraestrutura para o automóvel andar. Quebrar esse modelo é o que seria necessário para incorporar os pobres.

Lúcia Rodrigues - E como se quebra esse modelo?
Vamos primeiro falar da terra. Porque esse “como se quebra esse modelo” é uma reflexão muito difícil para eu fazer depois que eu saí do governo federal. A terra no Brasil durante vários séculos, a propriedade da terra, esteve ligada à detenção de poder social, político e econômico. É interessante perceber em uma cidade como São Paulo como é que a área de proteção dos mananciais, que é uma área protegida por lei federal, estadual e municipal e planos de tudo quanto é tipo, está sendo ocupada. O poder de polícia sobre o uso do solo tem cinco organismos: a Sabesp, a Cetesb, Eletropaulo, o poder municipal sobre o parcelamento do solo, e a Polícia Florestal. Todo mundo é responsável pela fiscalização. Então não falta lei, não falta plano. É bem importante deixar isso claro. Estou cansada de ouvir gente dizendo que falta planejamento, falta plano diretor. Não falta nada. E não falta lei no papel. O que falta é que essa população tem que morar em algum lugar. E ela vai morar onde? Então pensa na população que chega na cidade de São Paulo. O centro está se esvaziando. Isso parece incrível, aliás, em todas as cidades brasileiras grandes. Então nós temos em área de proteção dos mananciais, já vi secretário de meio ambiente falar em um milhão e quinhentas mil pessoas. E já ouvi gente da Empresa Metropolitana de Planejamento falar em dois milhões de pessoas. É uma ligeira margem de dúvida. Isso mostra que nós não sabemos quantas pessoas moram na área de proteção dos mananciais.

Hamilton Octavio de Souza – Qual a consequência disso para o abastecimento de São Paulo?
Nós estamos buscando água na bacia do rio Piracicaba. Falam em buscar água serra abaixo. Estão falando em buscar água não sei mais onde no vale do Paraíba, e nós temos duas represas em que a água vem por gravidade, mas a água está crescentemente contaminada, e eu estou me referindo à contaminação recém-descoberta de que mesmo depois do tratamento existem hormônios e antidepressivos na água. Mas isso é outra coisa, são pesquisas mais recentes. Eu tenho então uma metrópole na área de proteção dos mananciais. E se os governos decidissem cumprir a lei? Não entra mais ninguém ou tem que sair? O que aconteceria? Os conflitos do MST iam ser refresco. Eu já tive aluno que afirmou que haverá guerra civil. Eu concordo. Se você de repente pega todo mundo que ocupou os morros do Rio de Janeiro, que estão desmoronando, ou dos morros de São Paulo, que desmoronaram meses atrás, e proíbe de ocupar, é guerra. Mas aí alguém fala: tem que ter uma política habitacional. Tem. Metade da população do Rio de Janeiro mora em domicílios ilegais. Como é que você faz uma política habitacional para incorporar metade da população sem uma completa revolução com a terra? Sem uma completa mudança na característica do mercado imobiliário? Sem uma completa mudança no direito de propriedade? Sem uma completa mudança da forma de ação do Estado? De que jeito?

Tatiana Merlino - Mas como é muito pouco provável que aconteça, para onde a gente vai caminhar?
Nós estamos caminhando para o caos.

Tatiana Merlino - O que aconteceu no Rio de Janeiro é a prova disso?
É. O que aconteceu em São Paulo, em todas as cidades, é a maior prova disso. Se você somar a falta de controle de uso e ocupação do solo, que não existe a consciência de que é necessário controlar, mais a falta de planejamento com a questão da macrodrenagem... E ainda com mais incentivo para a matriz automobilística, nós vamos piorar.


Lúcia Rodrigues - Mas como romper com esse modelo?
Eu acho sinceramente que não vai ser simples. A questão da terra sempre foi muito clara no campo, mas ela não foi muito clara na cidade. Por quê? Porque ninguém se dava conta de que a regra era exceção e a exceção era regra.

Lúcia Rodrigues – Mas qual é o problema da terra?
Um aluno meu me mostrou a funcionalidade da confusão registrária no Brasil. Ele mostrou que nos parques estaduais paulistas existiam sete andares de registro de propriedade no mesmo pedaço de terra. Por quê? Porque a história do registro de propriedades no Brasil é uma história de fraudes. Eu desagradei muita gente, mas falo isso o tempo todo. A história da propriedade privada no Brasil é uma história de fraudes sistemáticas. Não é que você tenha uma fraude ou outra. É regra de novo. O Ariovaldo Umbelino mostrou em uma de suas palestras (ele é um geógrafo competente, se aposentou da USP) um anúncio de venda de uma propriedade de 40 mil hectares, no qual a grande vantagem que oferecia era uma escritura de 4 mil hectares. Porque a cerca anda. Então ter uma escritura já é uma maravilha. E a cerca anda no Brasil. Então o que me impressionou na tese do Joaquim de Brito, esse meu aluno, é que o governo não tem nenhum interesse em cancelar registros que se revelam falsos.

Tatiana Merlino - E no caso da Cutrale?
Esse é outro exemplo que eu adoro dar. Quer dizer, para a mídia brasileira foi muito mais importante a derrubada de meia dúzia de pés de laranja do que o patrimônio público ser apropriado privadamente. Ora, é regra. O Pontal todo. E a polícia e o Judiciário têm a coragem de atacar o MST, que é meia dúzia de gente pobre que quer o mínimo, que é o acesso à terra. Vai fazer a discriminatória das terras públicas que você vai ver quanto esse país vai ganhar de terra!

Bárbara Mengardo - Existe uma estimativa de quantos hectares de terras griladas são ocupadas por grandes empresas?
Na verdade os documentos são produzidos. Foi isso que eu verifiquei com a tese do Joaquim de Brito, que, aliás, eu pedi que ele produzisse um texto que fosse mais palatável para a linguagem de um livro e ele morreu na madrugada que ele escreveu o texto. Aprendi muito com ele porque ele tinha documentos de todas as terras e dizia: “Olha, ainda tem registros novos aparecendo”. Ele mostrou que tinha propriedade no litoral que subia a serra. E aí quando eu vejo a mídia atacar o MST eu fico absolutamente impressionada. Em um país onde a história da propriedade é de fraude. Eu resolvi juntar livro sobre isso. Aí eu comecei a ver que nós temos uma produção gigantesca sobre a fraude na propriedade da terra, sobre as disputas de terra, sobre morte.

Lúcia Rodrigues - Quem está por trás disso? São os cartórios? É o governo?
Tudo. É a sociedade brasileira. É poder vinculado à propriedade.

Entrevista retirada na edição de maio da revista Caros Amigos

2 de março de 2011

São Paulo tem 115 mil pessoas vivendo em áreas de alto risco

Mapeamento do IPT aponta mais 105 mil pessoas em médio e baixo risco

A cidade de São Paulo tem 115 mil pessoas vivendo em áreas de risco alto e muito alto. A informação é de mapeamento realizado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) na cidade de São Paulo. O levantamento aponta 407 áreas de risco do município, localizadas em 26 subprefeituras.

Destas, 176 moradias ficam na zona sul da cidade, 107 são da zona norte, cem ficam na zona leste e 26 na zona norte. De acordo com o mapeamento, 27% dessas moradias são de risco alto e muito alto (28 mil) e 73% estão em áreas de médio e baixo risco (105 mil).

Em 2010, a Secretaria das Subprefeituras investiu R$ 29,6 milhões em ações para redução de risco geológico. Foram executadas 74 intervenções em toda a cidade, beneficiando 29 mil pessoas. Desde 2005, foram transferidas 59 mil pessoas de áreas de risco com obras de urbanização de favelas, Programa Mananciais e outras ações da Prefeitura. No mesmo período, mais de 400 obras foram realizadas para eliminação ou redução do risco nessas áreas.

Para este ano de 2011, a Prefeitura pretende realizar 110 intervenções de pequeno e médio porte nos setores mais críticos. O objetivo é investir R$ 100 milhões, incluindo as obras do PAC-2. Entre as ações de planejamento estão também: a integração como os programas municipais de urbanização, regularização fundiária e operações urbanas, além de estruturação dos sistemas de monitoramento e alertas em áreas prioritárias.

A Secretaria de Subprefeituras de São Paulo divulgou nesta segunda-feira (17) alguns dados do mapeamento realizado pelo IPT. Segundo a assessoria de imprensa, até o fim desta semana, os demais dados serão divulgados.

Artigo retirado: http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/sao-paulo-tem-28-mil-moradias-em-areas-consideradas-de-alto-ou-muito-risco-20110117.html

Uma nova política habitacional para São Paulo

Prefeitura de SP precisa rever políticas para moradores de áreas de risco, diz urbanista

A Prefeitura de São Paulo precisa estabelecer uma política habitacional consistente para reduzir efetivamente o número de famílias que vive em áreas de risco, disse o urbanista do Instituto Polis, Kazuo Nakano. “Enquanto a gente não tiver uma política habitacional boa, as famílias vão continuar indo para essas áreas”, acrescentou.
A prefeitura divulgou nessa terça-feira (21) o mapeamento de áreas de risco na cidade. Segundo o levantamento, 29 mil famílias vivem em situação de risco alto ou muito alto. Para resolver o problema dessas pessoas, o executivo municipal promete implantar ações integradas, que vão desde a transferência de domicílios em situação de risco à eliminação do risco por meio da construção de sistemas de drenagem e tratamento de encostas.
Nakano destacou que para conseguir atender a maior parte das famílias é preciso uma “programação de investimentos permanentes” em moradia, ao contrário do que tem sido feito até agora. “As reiteradas ocorrências de desastres, de deslizamentos e do aumento do número de mortes mostra que as ações da prefeitura têm sido completamente insuficientes”, apontou.
O foco de destinação dos projetos e recursos na capital paulista está concentrado, segundo o urbanista, na ampliação do sistema viário. “ Na abertura e construção de vias, em obras desse tipo”, afirmou.
Para ele, a solução do problema de milhares de pessoas que vivem em áreas de risco exigirá não somente recursos financeiros, mas bons projetos de realocação dos que tiverem que deixar suas casas. “Em uma remoção só com indenização, muito provavelmente as pessoas não conseguem recompor sua vida naquele mesmo lugar”, destacou a professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais, Heloísa Costa.
Ela admitiu, no entanto, que encontrar uma nova residência para os moradores dessas áreas em uma grande cidade envolve conflitos com os interesses daqueles que têm imóveis desocupados. “Tanto a terra quanto a habitação vazia têm dono, então conseguir conciliar essas duas coisas nem sempre é possível nessa escala.”
Nakano lembrou que é preciso ainda criar instrumentos para evitar novas ocupações irregulares. “Construir uma estratégia de regulação da terra urbana que precisa ser muito forte, com fiscalização descentralizada”, disse.

Artigo retirado: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/02/23/prefeitura-de-sp-precisa-rever-politicas-para-moradores-de-areas-de-risco-diz-urbanista.jhtm

Rio vai recuperar conjunto Pedregulho

Rio de Janeiro – Marco da arquitetura moderna, o Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, no bairro de Benfica, na zona norte da cidade, passará por reformas de R$ 10,5 milhões. Criado com a ideia de integrar moradia a escolas, posto de saúde e áreas de convivência comuns, o prédio principal, de 272 apartamentos está em precário estado de conservação.

Um dos moradores do conjunto, o estudante Daniel Prado de Oliveira, de 25 anos, de uma das famílias mais antigas do local, disse que o prédio principal tem problemas graves na estrutura que prejudicam as instalações. “Precisamos de reforma na parte de saneamento, água, nos pilares, nos telhado e em várias coisas que estão colocando o prédio em risco”.

O Pedregulho foi projetado para a moradia de funcionários de menor poder aquisitivo da então prefeitura do Distrito Federal, na época em que o Rio era a capital do país. Com o tempo, os antigos donos venderam seus imóveis, que hoje são ocupados por famílias pobres que não pagam o condomínio e não têm a escritura dos aparatamentos.

A Secretaria Estadual de Habitação fez um levantamento da situação e deve começar um projeto de regularização assim que resolver com a União o problema da posse do terreno. Paralelamente, como o prédio é símbolo da arquitetura moderna no Rio, fará uma reforma, dividida em duas etapas.

Na primeira parte, investirá na reforma do telhado, pisos, serviços de alvenaria, revestimento de paredes, escadarias de acesso, instalações elétricas e hidráulicas, por exemplo. Na segunda etapa, sem data prevista para começar, vai reformar os azulejos, os painéis de Portinari e Burle Marx, além das faixadas e áreas comuns, em parceria com a iniciativa privada.

Para o morador Daniel Prado, a medida favorece à organização do condomínio, que pretende cobrar uma taxa para administrar o prédio e fazer, no futuro, os próximos reparos. “Não temos como cobrar condomínio. No máximo, não recolhemos o lixou ou deixamos de fazer a limpeza em frente ao apartamento. Com a regularização [da posse], será mais fácil”.

Projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, na década de 1940, com paisagismo de Burle Marx, fazem parte do conjunto popular três prédios instalados no Morro do Pedregulho. Uma escola da prefeitura para 200 alunos também funciona no local, com ginásio de esportes e piscina olímpica. Um posto de saúde existia no local, mas foi fechado.

Pensado para facilitar a vida das famílias e ampliar os espaços de convivência e lazer, o Pedregulho também contava com uma lavanderia coletiva, que está desativada, por falta de manutenção.

Devido sua importância para arquitetura, o conjunto está em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Artigo retirado: http://adilsonbevilacqua.com.br/2011/01/09/rio-vai-recuperar-conjunto-habitacional-simbolo-da-arquitetura-modernista-carioca/