8 de abril de 2011

Revitalização do Centro de SP é alvo de críticas dos moradores da região

As cidades crescem sem planejamento, a população ocupa áreas irregularmente. Esse é o roteiro de qualquer grande cidade brasileira. Com isso, chega a violência e as drogas. Para recuperar essas áreas o desafio é monumental.

Em São Paulo começa mais uma batalha pra se livrar da cracolândia, que é um desafio enorme. Só o projeto de recuperação do local já custou milhões, só para fazer o projeto. Essa semana a prefeitura começa a cadastrar os moradores que serão afetados pelas obras na região, mas, mesmo antes de sair do papel, esse projeto enfrenta duras críticas.

Periferias inchadas, regiões perigosas ocupadas irregularmente e um centro com infra-estrutura, sem moradores e sem cuidado. Um roteiro que se repete nas grandes cidades brasileiras e se tornou dramático em São Paulo, onde quarteirões inteiros foram tomados por viciados em drogas.
“Tem ruas em que é complicado andar, não tem como andar tranquilo”, conta o morador Edson Mazoli.

A prefeitura de São Paulo contratou uma empresa de engenharia para reconstruir o bairro da Luz. Mas os comerciantes da conhecida Rua Santa Ifigênia, que concentra lojas de produtos elétricos e eletrônicos, não gostaram.

"Se querem melhorar, que sentassem e negociassem como nós poderíamos melhorar juntos. Eu não acredito em promessa de Papai Noel. Eles encantam a gente com projeto, com construções. Não precisa de construção, precisa de incentivo à região para sobreviver e melhorar. Eles não vêm com intenção de apoio, o projeto vem com intenção de trocar de dono, isso nós não vamos deixar", afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, Joseph Fares Riachi.

Ao todo, 45 quadras passarão por mudanças. Imóveis serão desapropriados, demolidos e reconstruídos, só os tombados pelo patrimônio histórico ficarão de pé. O número de habitações deverá aumentar em 60%, ultrapassando 11 mil unidades. Apenas 20% delas - cerca de 2,5 mil unidades - serão destinadas para os atuais moradores, que estão inseguros.

“Eu, particularmente, não saio do meu apartamento sem ser pago o que vale. Eu só saio morto ou se pagar o valor que vale, não o valor que ele quer”, diz o morador Antonio Magalhães Neto.
“Muita insegurança e muito medo, porque você imagina que a sua vida toda está no bairro, o trabalho, as relações familiares. As pessoas que têm filhos, trabalham e moram perto têm filhos que estudam perto, estão em creches. Não há segurança”, afirma a professora e presidente Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Luz e Santa Ifigênia, Paula Ribas
Tanto conflito mostra a complexidade do projeto, uma das maiores intervenções urbanas já feitas no país.

"Não temos algumas respostas porque, de fato, o projeto é preliminar. Se chegássemos com todas as respostas teríamos um projeto pronto, o que não era a nossa idéia inicial”, diz o chefe da assessoria técnica de planejamento urbano da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Luís Oliveira Ramos.

A Nova Luz ainda é só um projeto e já custou R$ 12 milhões para a prefeitura. A construção de moradias sociais, calçadas mais largas, ciclovias, parques lineares, a reforma do sistema público de iluminação e transporte vai custar muito mais. É o preço que São Paulo paga pela falta de planejamento. Os urbanistas dizem que reformar o que está pronto sempre sai muito mais caro, o que não é um problema só de São Paulo.

As cidades brasileiras crescem como uma mancha de óleo, que vai se espalhando para os lados, para a periferia, enquanto o centro se desfaz. explica o arquiteto e urbanista da USP José Eduardo Lefevre, que completa: “Esse crescimento faz com que áreas rurais sejam transformadas em áreas urbanas e precisem de todo o equipamento de infra-estrutura - ruas, luz, água, serviço de saúde, educação. O que onera toda a infraestrutura e leva também, simultaneamente, ao esvaziamento das áreas centrais, progressivamente transformadas em áreas comerciais.

Os urbanistas também alertam que não basta fazer obras no centro. É preciso criar vantagens e atrativos para que as pessoas voltem a morar nessa região. Para isso, a iniciativa privada tem que participar das transformações, pois são investimentos que só darão resultado em uma década.

FONTE: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/03/revitalizacao-do-centro-de-sp-e-alvo-de-criticas-dos-moradores-da-regiao.html

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