4 de março de 2011

Visita Técnica

Moradores dos baixios do viaduto da Av. Cristiano Machado com a Rua Jacui Bairro da Graça - Belo Horizonte.

Entrevista de Ermínia Maricato

Especulação da terra inviabiliza moradia popular

Participaram: Bárbara Mengardo, Gabriela Moncau, Hamilton Octavio de Souza, Júio Delmanto, Lúia Rodrigues, Otávio Nagoya, Tatiana Merlino.

A arquiteta Ermínia Maricato tem uma longa trajetória de reflexão teórica e enfrentamento dos problemas urbanos, como profissional e como militante do PT. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, coordenadora do programa de pós-graduação (1998-2002), foi também secretária de Habitação de São Paulo (1989-1992) e secretária-executiva do Ministério das Cidades (2003-2005). Na entrevista a seguir ela faz uma análise profunda e reveladora da situação caótica das cidades brasileiras. Vale a pena ler.

Hamilton Octávio de Souza - Onde você nasceu? O que estudou? Fale sobre a sua trajetória.
Ermínia Maricato - Eu nasci no interior do Estado de São Paulo, em uma cidade chamada Santa Ernestina, mas vim muito cedo para São Paulo. Meu pai foi camponês, mas se tornou um pequeno empresário, tinha uma granja de aves. A família é três quartos italiana e um quarto portuguesa. Nós tivemos que vir para São Paulo porque a minha mãe tinha uma doença, hoje eu sei que é psíquica, mas no interior nós não sabíamos bem o que era. Com 5 anos eu vim para São Paulo, estudei em escola pública, que era maravilhosa, morei no Brás e, enfim, sempre gostei muito de estudar, minha mãe não queria que eu estudasse, o meu pai me deu toda a força, acho que não tem tanta novidade aí. Foi um período em que era possível um filho de europeu, mesmo que viesse do campo, era fácil ter ascensão social em São Paulo. Foi o que aconteceu com o meu pai, ele amealhou um certo patrimoniozinho, então não é a mesma condição que o filho de camponês brasileiro, que tem origem muitas vezes na herança escrava, uma condição diferente. Bem, eu fiz química industrial no nível médio, comecei a faculdade de física na USP, depois é que eu passei para arquitetura; mas hoje eu acho que errei, estou muito apaixonada pela terra, por agricultura, por agricultura orgânica. Atualmente pertenço a uma associação que tem uma gleba de Mata Atlântica e nós estamos fazendo um pomar de frutas em extinção da Mata Atlântica, esse é o meu hobby atual. Então eu estou tão encantada, tão impressionada com a força e a exuberância da Mata Atlântica que fico pensando como nós conseguimos destruir essa riqueza.

Lúcia Rodrigues - Como surgiu essa ideia?
A associação já existia. Eu cheguei em um amigo e falei: acho que a gente devia comprar um pedaço de mata para deixar lá. E aí ele falou: mas eu já estou em um lugar que tem isso e tal. Aí eu fui, me encantei, entrei na diretoria. Temos uma médica homeopata como presidente, temos várias tribos ali, temos sete nascentes de água, então nós estamos trabalhando no tratamento e distribuição dessa água e agora nós passaremos a discutir o lixo, o esgoto.

Tatiana Merlino - Onde é?
Fica a uma hora de São Paulo, em São Lourenço da Serra. Então é a minha paixão atual e eu fiquei muito impressionada de como é que eu não fui para a agricultura, pois tem muito a ver com a questão ambiental. Eu comi uma fruta quando era criança e morava no interior que chamava pindaíva, é uma fruta lindíssima, vermelha, parece uma fruta do conde, ela é de uma árvore muito alta e aí eu falei: Mas cadê a fruta? Não existe mais. Então eu fui pesquisar e consegui, depois de muito procurar, achar uma muda da pindaíva, hoje nós plantamos quatro mudas lá no vale e aí tem outras frutas que eu nem sei o que são, comprei outras mudas, fui atrás, agora eu estou pesquisando isso. Lá tem uns malucos que entram na mata, pegam semente, estão plantando, tem um pessoal interessante. Eu gosto mais de falar disso do que falar de cidade, meu Deus do céu. O que eu quero deixar de fundamental em relação a questão urbana é que as cidades vão piorar.

Lúcia Rodrigues - Mais ainda?
Muito, muito.

Lúcia Rodrigues - Por que, professora?
Porque não tem nada sendo feito para contrariar o rumo.

Júlio Delmanto - As cidades que você diz não são só as grandes, né?
Não só as grandes, porque as cidades que mais crescem atualmente são as médias no Brasil, não são as metrópoles, as metrópoles deram uma recuada, desde a década de 80 as metrópoles estão crescendo menos e as cidades médias estão crescendo mais.

Tatiana Merlino - Nada está sendo feito nos âmbitos federal, estadual e municipal?
Não é só uma questão de governo. Primeiro não é uma questão restrita a governo, é uma questão do capitalismo periférico, eu quero fazer questão de falar isso porque muita gente fala: ah! falta vontade política! Eu vou dizer que tem problemas que são estruturais. Um deles: o mercado residencial, no capitalismo periférico, atinge uma pequena parte da população. Até 2004, quando começa uma mudança na política habitacional, da qual eu fiz parte, o mercado brasileiro produzia para 20% da população. Em São Luís (MA) é para 10% da população. Eu fico pensando, pela minha experiência, que São Paulo, por exemplo, chega a 40% da população, mas quando você vai para São Luís ou Belém (PA), o mercado não chega a 10% da população. O mercado, esse sim, segue a lei, que tem um investimento, às vezes tem um financiamento, ou às vezes até mesmo a empresa incorpora o teu financiamento, você faz um projeto que é aprovado na prefeitura de acordo com a legislação de código de obras, legislação de parcelamento do solo, legislação de zoneamento, aí isso é lançado, tem compradores que também podem ter um financiamento. Isso é o que? No Canadá, na Europa, nos EUA isso atinge de 70 a 80% da população. No Canadá isso é muito claro: 30% da população precisa de subsídio para comprar moradia. Aqui no Brasil é o oposto: tem 70% da população. Varia de cidade, de região, se tem uma classe média maior, esse número é maior, se você tem uma classe média menor, como as cidades do Norte e Nordeste, esse número é menor. Então, vivemos em uma sociedade em que uma parte da população se vira, ela não se integra ao mercado e não tem política pública para chegar nela. O financiamento, o investimento público habitacional ampliou muito a partir de 2004, é impressionante o aumento nos últimos anos. Mas na sociedade brasileira a classe média não entra no mercado. O que quer dizer que a classe média não entra no mercado? O policial, o funcionário da USP, o professor secundário mora em favela, isso é uma coisa comum. Então, o Brasil é um país típico de capitalismo periférico, onde um trabalhador regularmente empregado, com estabilidade no emprego, que é o caso de um funcionário público, não tem acesso à moradia no mercado.

Tatiana Merlino - Esse “se vira” a que você se referiu é equivalente ao déficit habitacional que há no Brasil?
É mais do que o déficit.

Tatiana Merlino - Qual é o déficit habitacional hoje do Brasil?
Olha, o déficit deve estar entre os 7 e 8 milhões, o déficit é sempre uma coisa que deve ser discutida, né? O que você considera déficit? Uma das questões que discutimos no ministério, por exemplo, é que o IBGE considera déficit a convivência de famílias e às vezes é uma decisão sua conviver com mais de uma família. Então, devo ou não considerar isso déficit? O que eu quero dizer é o seguinte: “parte da população brasileira se vira” significa que ela arruma terra, eu tenho muita restrição para usar a palavra invadindo, porque os movimentos sociais não gostam, digamos que ocupando ilegalmente, mas esse ocupando ilegalmente é uma coisa muito vasta. E construindo as próprias casas, como o Chico de Oliveira mostrou em um artigo que ficou clássico, em 1972, que essa autoconstrução, essas ocupações ilegais não eram uma coisa espontânea ou decisão deles, aquilo era o resultado do rebaixamento da força de trabalho, quer dizer uma força de trabalho que não ganha para comprar uma casa, para pagar para alguém construir, mas não dentro da lei, não é dentro do mercado, não consegue comprar a terra. E a terra é um capítulo a parte. Então essa condição de ilegalidade é geral no Brasil. Tem um município perto de Belém, Ananindeua, ou outros municípios na periferia de Recife, Salvador, Fortaleza, onde 90% dos domicílios são ilegais. Quando você chega à região metropolitana de Fortaleza o próprio IBGE dá 33% da chamada sub-habitação. Nós temos alguns estudos, não temos dados fidedignos, mas isso já mostra um pouco o que é a realidade brasileira. Quanto por cento da população brasileira mora em favela? Tem alguns trabalhos que mostram que há uma grande diferença de uma cidade para outra no Brasil, mas que a exceção que seria uma casa ilegal, construída completamente fora da lei em uma terra ocupada de forma completamente irregular, construída aos poucos, sem qualquer conhecimento de engenheiro ou arquiteto etc., é regra, não é mais exceção. Veja bem, o que era para ser exceção virou regra e o que era para ser regra virou exceção.

Tatiana Merlino - Essa é uma característica do capitalismo periférico?
É. Você vê isso no mundo inteirinho e varia um pouco em cada país. A Argentina, que já teve uma condição muito melhor socialmente na América Latina, agora está em uma situação dramática. Na Argentina você tinha menos disso, algo em torno de 20 ou 30 anos atrás, ela era mais formal, a cidade na Argentina. Fui convidada para ir a um encontro sobre moradores de rua na Argentina, eles ficaram encantados com a nossa política de morador de rua e aí eu falei: Bom, mas vocês não tinham porque vocês não tinham morador de rua e no Brasil tem há muito tempo. Se você vai para o Chile você tem uma formalidade maior na cidade, tem uma classe média mais forte. Agora o resto, Bolívia, Venezuela, que eu andei pelos morros em volta de Caracas, o próprio México, você tem uma situação que é pior do que algumas metrópoles brasileiras, porque o Brasil tem algumas coisas que são mais ricas e algumas coisas que são mais pobres.

Hamilton Octávio de Souza - Mas esse processo não está sendo revertido?
Ao contrário, as cidades do mundo estão se empobrecendo. Se você pegar a África é impressionante o que está acontecendo.

Hamilton Octávio de Souza - E São Paulo? O que acontece em São Paulo?
São Paulo está assim: o município concentra, se não me engano, 22% da população que ganha acima de 20 salários mínimos do Brasil. Então você tem uma grande concentração de renda em São Paulo, Ribeirão Preto, Santos, e Brasília – no plano piloto. Então você tem uma condição de expulsão da população desses municípios mais ricos.

Hamilton Octávio de Souza - A favelização aqui tem sido crescente, não tem? Desde a década de 50?
Mas muito mais nas periferias. Se eu pegar Cajamar, Franco da Rocha, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu, você tem uma periferização com o aumento da violência, com uma queda geral de índices e a gente trabalha com média, o que é complicado.

Lúcia Rodrigues - A concentração do capital é o que está levando ao empobrecimento das cidades, é isso?
Não é só. Você tem assim uma tradição de desigualdade histórica, você tem nesses países essa questão estrutural da informalidade tanto no trabalho quanto na ocupação do solo, então nós temos ilhas que são cidades do primeiro mundo, isso é tudo inadequado. Por isso que eu acho engraçado dizer que a questão é técnica. Na verdade nós copiamos a lei de zoneamento, toda a legislação do primeiro mundo e aí a gente garante uma ilha onde o resto não cabe. Para inserir a população pobre nessa cidade eu preciso transformar o conjunto, isso foi o que discutimos no Fórum Urbano Mundial e no Fórum Social Urbano.

Júlio Delmanto - Existe alguma diferença entre esses países que são chamados em desenvolvimento em relação ao resto da periferia?
Sim. O Brasil é diferente. É uma economia forte. É um player internacional. Ele passou de “nada dava certo” para “país do futuro” ou “do presente”. Mas a desigualdade é uma coisa escandalosa no Brasil. A África do Sul me impactou porque ela saiu do apartheid, em que a segregação, diferentemente da nossa, era jurídica. Então você não podia ir para a cidade se você fosse negro, a menos que você tivesse um passe. Vencer essa segregação quando o Mandela ganhou parecia fácil. Mas existe um problema que está atingindo todo o terceiro mundo que é a questão da terra. A questão da terra não foi superada com a luta contra o apartheid. Aliás, foi uma coisa que me impressionou muito, que eu ouvi de vários líderes: se a terra tivesse entrado em negociação, a paz não acontecia.

Hamilton Octavio de Souza - O que é a questão da terra? É a terra urbana?
É a terra urbana e rural. A terra está na essência da alma brasileira. A desigualdade no Brasil passa essencialmente pela questão fundiária. Campo e cidade. Só terminando a história dessa segregação, não tem nenhum mistério. Uma parte da população constrói as casas, constrói fora da lei e não tem lugar nas cidades. Às vezes os planos diretores não disseram onde os jovens iam morar, porque todo plano diretor é seguido de uma lei de zoneamento e a lei de zoneamento é lei para o mercado, e a nossa população tá fora do mercado. Então os urbanistas estão trabalhando em um espaço de ficção, com realidade de ficção. Aliás, essa ausência dos engenheiros nem se fala. Eu quero falar depois do estrago que a engenharia fez em São Paulo.

Lúcia Rodrigues - Essas leis que você citou funcionam?
Nada. O estatuto da cidade é um sucesso no mundo. Do Brasil para o mundo. Eu sou convidada a consultoria internacional o tempo todo por conta do estatuto da cidade. Eu fui a poucos lugares, mas para onde eu fui eu falei que não está sendo aplicado no Brasil. Não está sendo aplicado.

Tatiana Merlino - Existe uma política habitacional para resolver essa questão do controle do solo?
Lei nós temos. O estatuto da cidade é ótimo. Constituição Federal nós temos. Só que nós não aplicamos a função social da propriedade. Só terminando aquilo. A nossa lógica é que a mão de obra barata de que o Celso Furtado falava muito, que garante a exportação de riqueza, que garante uma elite conspícua, que é patrimonialista, que se agarrou a este Estado e fez dele o que fez, tem a lógica de que nós temos que ter uma mão de obra absolutamente rebaixada no seu preço para poder segurar essa relação.

Lúcia Rodrigues - Mas isso não é anticapitalista? Por que se você tem gente ganhando mais, injeta força e fluxo no mercado.
É engraçado isso. Porque o Ford descobriu que os operários precisavam ganhar melhor para que o capitalismo fosse melhor em 1905, início do século 20. Não é essa a lógica no Brasil. Inclusive uma das coisas que nós nos perguntamos é se o capitalismo brasileiro, principalmente a burguesia nacional, porque as transnacionais não estão nem aí se vão esgotar as reservas, se as cidades vão virar um negócio inviável, pretende se tornar viável. O capitalismo no Brasil não está preocupado em viabilizar. As nossas cidades estão ficando inviáveis. O automóvel está inviabilizando não só São Paulo, mas todas as cidades brasileiras. Brasília está também com um problema seríssimo de trânsito. Então você tem um problema que também é estrutural. A indústria automobilística é responsável por 20% do PIB do mundo, se eu colocar a exploração de petróleo, a distribuição de petróleo, toda a indústria da borracha, das autopeças. E todas as obras nas cidades são uma questão de infraestrutura para o automóvel andar. Quebrar esse modelo é o que seria necessário para incorporar os pobres.

Lúcia Rodrigues - E como se quebra esse modelo?
Vamos primeiro falar da terra. Porque esse “como se quebra esse modelo” é uma reflexão muito difícil para eu fazer depois que eu saí do governo federal. A terra no Brasil durante vários séculos, a propriedade da terra, esteve ligada à detenção de poder social, político e econômico. É interessante perceber em uma cidade como São Paulo como é que a área de proteção dos mananciais, que é uma área protegida por lei federal, estadual e municipal e planos de tudo quanto é tipo, está sendo ocupada. O poder de polícia sobre o uso do solo tem cinco organismos: a Sabesp, a Cetesb, Eletropaulo, o poder municipal sobre o parcelamento do solo, e a Polícia Florestal. Todo mundo é responsável pela fiscalização. Então não falta lei, não falta plano. É bem importante deixar isso claro. Estou cansada de ouvir gente dizendo que falta planejamento, falta plano diretor. Não falta nada. E não falta lei no papel. O que falta é que essa população tem que morar em algum lugar. E ela vai morar onde? Então pensa na população que chega na cidade de São Paulo. O centro está se esvaziando. Isso parece incrível, aliás, em todas as cidades brasileiras grandes. Então nós temos em área de proteção dos mananciais, já vi secretário de meio ambiente falar em um milhão e quinhentas mil pessoas. E já ouvi gente da Empresa Metropolitana de Planejamento falar em dois milhões de pessoas. É uma ligeira margem de dúvida. Isso mostra que nós não sabemos quantas pessoas moram na área de proteção dos mananciais.

Hamilton Octavio de Souza – Qual a consequência disso para o abastecimento de São Paulo?
Nós estamos buscando água na bacia do rio Piracicaba. Falam em buscar água serra abaixo. Estão falando em buscar água não sei mais onde no vale do Paraíba, e nós temos duas represas em que a água vem por gravidade, mas a água está crescentemente contaminada, e eu estou me referindo à contaminação recém-descoberta de que mesmo depois do tratamento existem hormônios e antidepressivos na água. Mas isso é outra coisa, são pesquisas mais recentes. Eu tenho então uma metrópole na área de proteção dos mananciais. E se os governos decidissem cumprir a lei? Não entra mais ninguém ou tem que sair? O que aconteceria? Os conflitos do MST iam ser refresco. Eu já tive aluno que afirmou que haverá guerra civil. Eu concordo. Se você de repente pega todo mundo que ocupou os morros do Rio de Janeiro, que estão desmoronando, ou dos morros de São Paulo, que desmoronaram meses atrás, e proíbe de ocupar, é guerra. Mas aí alguém fala: tem que ter uma política habitacional. Tem. Metade da população do Rio de Janeiro mora em domicílios ilegais. Como é que você faz uma política habitacional para incorporar metade da população sem uma completa revolução com a terra? Sem uma completa mudança na característica do mercado imobiliário? Sem uma completa mudança no direito de propriedade? Sem uma completa mudança da forma de ação do Estado? De que jeito?

Tatiana Merlino - Mas como é muito pouco provável que aconteça, para onde a gente vai caminhar?
Nós estamos caminhando para o caos.

Tatiana Merlino - O que aconteceu no Rio de Janeiro é a prova disso?
É. O que aconteceu em São Paulo, em todas as cidades, é a maior prova disso. Se você somar a falta de controle de uso e ocupação do solo, que não existe a consciência de que é necessário controlar, mais a falta de planejamento com a questão da macrodrenagem... E ainda com mais incentivo para a matriz automobilística, nós vamos piorar.


Lúcia Rodrigues - Mas como romper com esse modelo?
Eu acho sinceramente que não vai ser simples. A questão da terra sempre foi muito clara no campo, mas ela não foi muito clara na cidade. Por quê? Porque ninguém se dava conta de que a regra era exceção e a exceção era regra.

Lúcia Rodrigues – Mas qual é o problema da terra?
Um aluno meu me mostrou a funcionalidade da confusão registrária no Brasil. Ele mostrou que nos parques estaduais paulistas existiam sete andares de registro de propriedade no mesmo pedaço de terra. Por quê? Porque a história do registro de propriedades no Brasil é uma história de fraudes. Eu desagradei muita gente, mas falo isso o tempo todo. A história da propriedade privada no Brasil é uma história de fraudes sistemáticas. Não é que você tenha uma fraude ou outra. É regra de novo. O Ariovaldo Umbelino mostrou em uma de suas palestras (ele é um geógrafo competente, se aposentou da USP) um anúncio de venda de uma propriedade de 40 mil hectares, no qual a grande vantagem que oferecia era uma escritura de 4 mil hectares. Porque a cerca anda. Então ter uma escritura já é uma maravilha. E a cerca anda no Brasil. Então o que me impressionou na tese do Joaquim de Brito, esse meu aluno, é que o governo não tem nenhum interesse em cancelar registros que se revelam falsos.

Tatiana Merlino - E no caso da Cutrale?
Esse é outro exemplo que eu adoro dar. Quer dizer, para a mídia brasileira foi muito mais importante a derrubada de meia dúzia de pés de laranja do que o patrimônio público ser apropriado privadamente. Ora, é regra. O Pontal todo. E a polícia e o Judiciário têm a coragem de atacar o MST, que é meia dúzia de gente pobre que quer o mínimo, que é o acesso à terra. Vai fazer a discriminatória das terras públicas que você vai ver quanto esse país vai ganhar de terra!

Bárbara Mengardo - Existe uma estimativa de quantos hectares de terras griladas são ocupadas por grandes empresas?
Na verdade os documentos são produzidos. Foi isso que eu verifiquei com a tese do Joaquim de Brito, que, aliás, eu pedi que ele produzisse um texto que fosse mais palatável para a linguagem de um livro e ele morreu na madrugada que ele escreveu o texto. Aprendi muito com ele porque ele tinha documentos de todas as terras e dizia: “Olha, ainda tem registros novos aparecendo”. Ele mostrou que tinha propriedade no litoral que subia a serra. E aí quando eu vejo a mídia atacar o MST eu fico absolutamente impressionada. Em um país onde a história da propriedade é de fraude. Eu resolvi juntar livro sobre isso. Aí eu comecei a ver que nós temos uma produção gigantesca sobre a fraude na propriedade da terra, sobre as disputas de terra, sobre morte.

Lúcia Rodrigues - Quem está por trás disso? São os cartórios? É o governo?
Tudo. É a sociedade brasileira. É poder vinculado à propriedade.

Entrevista retirada na edição de maio da revista Caros Amigos

2 de março de 2011

São Paulo tem 115 mil pessoas vivendo em áreas de alto risco

Mapeamento do IPT aponta mais 105 mil pessoas em médio e baixo risco

A cidade de São Paulo tem 115 mil pessoas vivendo em áreas de risco alto e muito alto. A informação é de mapeamento realizado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) na cidade de São Paulo. O levantamento aponta 407 áreas de risco do município, localizadas em 26 subprefeituras.

Destas, 176 moradias ficam na zona sul da cidade, 107 são da zona norte, cem ficam na zona leste e 26 na zona norte. De acordo com o mapeamento, 27% dessas moradias são de risco alto e muito alto (28 mil) e 73% estão em áreas de médio e baixo risco (105 mil).

Em 2010, a Secretaria das Subprefeituras investiu R$ 29,6 milhões em ações para redução de risco geológico. Foram executadas 74 intervenções em toda a cidade, beneficiando 29 mil pessoas. Desde 2005, foram transferidas 59 mil pessoas de áreas de risco com obras de urbanização de favelas, Programa Mananciais e outras ações da Prefeitura. No mesmo período, mais de 400 obras foram realizadas para eliminação ou redução do risco nessas áreas.

Para este ano de 2011, a Prefeitura pretende realizar 110 intervenções de pequeno e médio porte nos setores mais críticos. O objetivo é investir R$ 100 milhões, incluindo as obras do PAC-2. Entre as ações de planejamento estão também: a integração como os programas municipais de urbanização, regularização fundiária e operações urbanas, além de estruturação dos sistemas de monitoramento e alertas em áreas prioritárias.

A Secretaria de Subprefeituras de São Paulo divulgou nesta segunda-feira (17) alguns dados do mapeamento realizado pelo IPT. Segundo a assessoria de imprensa, até o fim desta semana, os demais dados serão divulgados.

Artigo retirado: http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/sao-paulo-tem-28-mil-moradias-em-areas-consideradas-de-alto-ou-muito-risco-20110117.html

Uma nova política habitacional para São Paulo

Prefeitura de SP precisa rever políticas para moradores de áreas de risco, diz urbanista

A Prefeitura de São Paulo precisa estabelecer uma política habitacional consistente para reduzir efetivamente o número de famílias que vive em áreas de risco, disse o urbanista do Instituto Polis, Kazuo Nakano. “Enquanto a gente não tiver uma política habitacional boa, as famílias vão continuar indo para essas áreas”, acrescentou.
A prefeitura divulgou nessa terça-feira (21) o mapeamento de áreas de risco na cidade. Segundo o levantamento, 29 mil famílias vivem em situação de risco alto ou muito alto. Para resolver o problema dessas pessoas, o executivo municipal promete implantar ações integradas, que vão desde a transferência de domicílios em situação de risco à eliminação do risco por meio da construção de sistemas de drenagem e tratamento de encostas.
Nakano destacou que para conseguir atender a maior parte das famílias é preciso uma “programação de investimentos permanentes” em moradia, ao contrário do que tem sido feito até agora. “As reiteradas ocorrências de desastres, de deslizamentos e do aumento do número de mortes mostra que as ações da prefeitura têm sido completamente insuficientes”, apontou.
O foco de destinação dos projetos e recursos na capital paulista está concentrado, segundo o urbanista, na ampliação do sistema viário. “ Na abertura e construção de vias, em obras desse tipo”, afirmou.
Para ele, a solução do problema de milhares de pessoas que vivem em áreas de risco exigirá não somente recursos financeiros, mas bons projetos de realocação dos que tiverem que deixar suas casas. “Em uma remoção só com indenização, muito provavelmente as pessoas não conseguem recompor sua vida naquele mesmo lugar”, destacou a professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais, Heloísa Costa.
Ela admitiu, no entanto, que encontrar uma nova residência para os moradores dessas áreas em uma grande cidade envolve conflitos com os interesses daqueles que têm imóveis desocupados. “Tanto a terra quanto a habitação vazia têm dono, então conseguir conciliar essas duas coisas nem sempre é possível nessa escala.”
Nakano lembrou que é preciso ainda criar instrumentos para evitar novas ocupações irregulares. “Construir uma estratégia de regulação da terra urbana que precisa ser muito forte, com fiscalização descentralizada”, disse.

Artigo retirado: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/02/23/prefeitura-de-sp-precisa-rever-politicas-para-moradores-de-areas-de-risco-diz-urbanista.jhtm

Rio vai recuperar conjunto Pedregulho

Rio de Janeiro – Marco da arquitetura moderna, o Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, no bairro de Benfica, na zona norte da cidade, passará por reformas de R$ 10,5 milhões. Criado com a ideia de integrar moradia a escolas, posto de saúde e áreas de convivência comuns, o prédio principal, de 272 apartamentos está em precário estado de conservação.

Um dos moradores do conjunto, o estudante Daniel Prado de Oliveira, de 25 anos, de uma das famílias mais antigas do local, disse que o prédio principal tem problemas graves na estrutura que prejudicam as instalações. “Precisamos de reforma na parte de saneamento, água, nos pilares, nos telhado e em várias coisas que estão colocando o prédio em risco”.

O Pedregulho foi projetado para a moradia de funcionários de menor poder aquisitivo da então prefeitura do Distrito Federal, na época em que o Rio era a capital do país. Com o tempo, os antigos donos venderam seus imóveis, que hoje são ocupados por famílias pobres que não pagam o condomínio e não têm a escritura dos aparatamentos.

A Secretaria Estadual de Habitação fez um levantamento da situação e deve começar um projeto de regularização assim que resolver com a União o problema da posse do terreno. Paralelamente, como o prédio é símbolo da arquitetura moderna no Rio, fará uma reforma, dividida em duas etapas.

Na primeira parte, investirá na reforma do telhado, pisos, serviços de alvenaria, revestimento de paredes, escadarias de acesso, instalações elétricas e hidráulicas, por exemplo. Na segunda etapa, sem data prevista para começar, vai reformar os azulejos, os painéis de Portinari e Burle Marx, além das faixadas e áreas comuns, em parceria com a iniciativa privada.

Para o morador Daniel Prado, a medida favorece à organização do condomínio, que pretende cobrar uma taxa para administrar o prédio e fazer, no futuro, os próximos reparos. “Não temos como cobrar condomínio. No máximo, não recolhemos o lixou ou deixamos de fazer a limpeza em frente ao apartamento. Com a regularização [da posse], será mais fácil”.

Projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, na década de 1940, com paisagismo de Burle Marx, fazem parte do conjunto popular três prédios instalados no Morro do Pedregulho. Uma escola da prefeitura para 200 alunos também funciona no local, com ginásio de esportes e piscina olímpica. Um posto de saúde existia no local, mas foi fechado.

Pensado para facilitar a vida das famílias e ampliar os espaços de convivência e lazer, o Pedregulho também contava com uma lavanderia coletiva, que está desativada, por falta de manutenção.

Devido sua importância para arquitetura, o conjunto está em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Artigo retirado: http://adilsonbevilacqua.com.br/2011/01/09/rio-vai-recuperar-conjunto-habitacional-simbolo-da-arquitetura-modernista-carioca/

Casa Ovo

Se você acha que sua casa é um ovo, espere até conhecer esta casa. Além de sua casa, existem pelo menos uma outra casa que foram projetadas neste conceito racionalista e minimalista.

O pretexto não podia ser mais oportuno. Desafiado pelas restrições económicas, Dai Haifei, um arquiteto chinês, construiu a sua própria casa e instalou-a nas imediações do local de trabalho, em Pequim, em plena via pública.
Dai Haifei na sua casa, estrada de Chengfu, Haidian

A casa tem o formato de um ovo e foi concebida em madeira, tiras de bambu, barras de aço e materiais antifogo e à prova de água. Para a isolar do calor e do frio, Dai Haifei revestiu-a com pequenos sacos cheios de aparas de madeira e sementes de relva.
Fase de construção, estrutura em ferro

Nada parece ter ficado esquecido do que é estritamente essencial – incluindo um tanque de água de pressão para lavar roupa e um painel solar destinado ao aquecimento –, excepto as instalações sanitárias.
Instalação de rodas para garantir a mobilidade

O custo da residência sai em torno de R$1.700,00 e possui 2,5m², cerca de 680R$/m².
Estrutura interior, madeira e tiras de bambu

Dai Haifei, obra em vias de conclusão

Impermeabilização e painel solar

Sacos com aparas de madeira e sementes de relva

Toda a concepção obedeceu a uma economia absoluta de espaço: dois metros de largura, três de comprimento e pouco mais de dois metros de altura (2,30m). O projecto foi nomeado para os “China Architecture Media Awards 2010”.
Casa portátil, projecto, planta

Casa portátil, projecto, corte

Casa portátil, chegada a Pequim, instalação

Dai Haifei no interior da casa, cama (largura 1 m)

Isolamento exterior, os primeiros sinais de relva

Dai Haifei, estrada de Chengfu, Pequim, 01.12.2010

Artigo retirado: http://pt-br.paperblog.com/uma-casa-em-forma-de-ovo-43457/

1 de março de 2011

Telhados verdes e jardins verticais

Nos últimos anos, o teto jardim ou teto verde entrou muito em voga com a disseminação da cultura da sustentabilidade. O problema é que, como pudemos ver no texto da semana passada, é necessária uma série de cuidados para realizar um verdadeiro jardim que você possa utilizar na cobertura de sua casa.

Por isso, algumas pessoas pararam para pensar: como poderíamos criar um teto verde, sem que necessariamente tivéssemos uma laje impermeabilizada? Qual seria a forma mais prática de ter um teto verde na cobertura? O que seria necessário para poder criar coberturas vegetais sobre construções de uma forma mais simples, ainda que não se possa frenquentá-la?

Com base nesses questionamentos, algumas empresas encontraram soluções muito interessantes e as lançaram recentemente no mercado brasileiro, com sucesso. Seus produtos são diferentes entre si, mas têm em comum o resultado final: a implantação de tetos verdes com relativa facilidade.

Para o uso dessa tecnologia, basta ter uma cobertura que suporte 50 kg por m², peso médio dos sistemas dessas empresas. A composição tecnológica do sistema varia de empresa a empresa, mas basicamente são uma série de camadas sobrepostas, formadas por:

• impermeabilizante, em geral do tipo anti-raízes, aplicada junto à laje de cobertura;

• camada de retenção e orientação de água;

• camada de retenção de nutrientes (deixa passar a água, mas impede que ela “lave o solo”, mantendo o alimento para as plantas crescerem saudáveis);

• o substrato (terra especial leve adubada) coeso (varia de empresa a empresa, e alguns são modulares e outros de enrolar);

• camada final do composto do substrato e, finalmente, a vegetação rasteira, que pode ser grama ou outras espécies de forração.

Imagem aérea do Centro de São Paulo. A impermeabilização do solo é praticamente total, o que causa enchentes e ilhas de calor

É possível utilizar esse tipo de solução sobre lajes e até sobre telhas metálicas, em que se sobe apenas para eventual manutenção.

Mas qual a utilidade de se ter um teto verde se não posso utilizá-lo?

São diversas as vantagens de um teto verde, ainda que não se possa subir nele para tomar sol ou jogar bola. Com o teto jardim você consegue melhorar a inércia térmica da sua construção, ou seja, ela não esquenta, nem esfria demasiadamente; melhora a acústica, ajuda na drenagem, contribui para a melhora da qualidade urbana como um todo e quem vê sua construção de cima agradece!

Imagine-se chegando de avião em uma cidade grande como São Paulo e, no lugar desse visual cinza desolador que as metrópoles oferecem quando vistas do alto, houvesse uma infinidade de tetos verdes? Seria quase como “erguer” o solo onde se fez a construção. Como as cidades seriam incríveis se fossem assim!

Por Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz, publicado originalmente em Uol.com.br.

Corte no orçamento atinge programa Minha Casa Minha Vida

Bloqueio de verbas do programa soma R$ 5,1 bilhões, ou 40% da dotação.
Segundo ministra, Minha Casa Minha Vida 2 ainda não foi aprovado.


A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, confirmou nesta segunda-feira (28) que o governo bloqueou R$ 5,1 bilhões do orçamento do programa Minha Casa Minha Vida, que oferece moradias para a população de baixa renda com juros menores, neste ano.
A dotação orçamentária de R$ 12,7 bilhões, para todo ano de 2011, foi reduzida para R$ 7,6 bihões, um recuo de 40%.
O programa Minha Casa, Minha Vida, está inserido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Desse modo, o PAC também foi cortado pelo governo federal, apesar das declarações da ministra do Planejamento de que o programa seria preservado. A dotação orçamentária do PAC recuou de R$ 39,7 bilhões para R$ 34,6 bilhões.
Nesta segunda, Belchior detalhou, ao lado do ministro Mantega, alguns dos cortes de R$ 50 bilhões que haviam sido anunciados pelo governo no início de fevereiro.
"Ainda assim, o orçamento do programa para este ano está R$ 1 bilhão maior do que ocorreu no ano passado, quando houve a maior parte das contratações do Minha Casa", afirmou a ministra, alegando que por isso não houve cortes no programa.
De acordo com a ministra, a redução do limite para gastos do Minha Casa Minha Vida se deve ao fato de que a segunda etapa do programa ainda não foi aprovada pelo Congresso Nacional. O orçamento original, segundo ela, contemplava a expectativa de que o programa vigorasse durante todo este ano.
A nova previsão do governo é de que a aprovação aconteça somente em abril ou maio de 2011. Com isso, de acordo com a ministra do Planejamento, a necessidade de gastos com o Minha Casa Minha Vida será menor, por conta da expectativa de que a segunda etapa programa vigorará por oito ou noves meses deste ano, e não em todo este ano.
De acordo com números do Ministério do Planejamento, do corte total de R$ 50 bilhões no orçamento federal deste ano, R$ 15,8 bilhões se darão em despesas obrigatórias.
A diferença de R$ 36,2 bilhões do bloqueio de gastos será feita no orçamento de custeio e capital, ou seja, nos gastos do dia a dia dos ministérios e de investimentos.
De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o corte não busca "derrubar" a economia brasileira, mas sim possibilitar um crescimento sustentado do Produto Interno Bruto (PIB), sem pressões inflacionárias.

Artigo original: http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/02/corte-no-orcamento-atinge-programa-minha-casa-minha-vida.html

Arquitetura Fast-Food

Em seu influente livro Economia Subterrânea, de 1986, o economista peruano Hernando de Soto descreve o potencial financeiro do mercado imobiliário de baixíssima renda. Ele defende que os governos dos países latino-americanos dêem títulos de propriedade a moradores de favelas ou outras residências precárias. Assim, eles poderiam tomar empréstimos usando imóveis como garantia e sairiam da informalidade mais rapidamente. Países que adotaram essa receita, como o México e o Peru, tiveram resultados razoavelmente satisfatórios. No Chile e na China, a solução para o déficit habitacional vem do mercado: o crescimento vigoroso do PIB tem permitido aos mais pobres comprar imóveis novos. No Brasil, último grande país emergente ainda sem solução para esse entrave, estima-se que 7,9 milhões de famílias não tenham casa própria – a maioria das quais sem poupança, na informalidade e com fluxo irregular de renda.

As iniciativas do governo brasileiro são ainda tímidas, embora as promessas sejam promissoras. Um empresário mineiro vislumbrou uma maneira inovadora de lucrar nesse ambiente com grande potencial e pouca renda: construir moradias menores, muito mais baratas, e financiá-las diretamente ao público de baixa renda, com boletos bancários mensais, como na venda de uma geladeira ou de um sofá. Deu certo: aos 32 anos, Henrique Alves Pinto já construiu 25 000 casas e apartamentos para compradores de baixa renda. O bom desempenho levou o empresário a anunciar a abertura do capital da construtora para 2007. Nos últimos dois anos, as vendas da empresa praticamente dobraram. A Tenda fechou 2006 com 6 000 unidades vendidas e cerca de 3 000 construídas. No fim do ano passado, a empresa deixou um estande aberto no feirão das Casas Bahia, em São Paulo. Vendeu cerca de 500 apartamentos.

O público da construtora é formado por taxistas, pedreiros e empregadas domésticas. No geral, são jovens casais que querem comprar a primeira casa. Obviamente, o grau de exigência desses compradores é menor. "Se as pessoas compram televisão das Casas Bahia e esfihas do Habib's, por que não comprariam casas e apartamentos da Tenda ?", indaga Alves Pinto. Ele criou unidades de dois dormitórios com área em torno de 45 metros quadrados que chegam ao consumidor final por, em média, 60 000 reais. Segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), o preço médio de um imóvel com dois dormitórios e 54 metros quadrados na região metropolitana de São Paulo é de 120 000 reais. O negócio, portanto, é atraente também para o comprador.


Alves Pinto teve a rede de fast-food Habib's como fonte de inspiração. Ele recorre a uma comparação. "A esfiha popular, que vende bastante, custa 39 centavos, mas tem menos carne que uma de 2 reais. Ela é um sucesso. O nosso objetivo é semelhante", disse o empresário. Como fazer para construir uma casa assim, com menos carne? A Tenda constrói imóveis padronizados, feitos em linha de produção e com a utilização do material mais barato encontrado no mercado. Os prédios não têm elevador, e as casas têm plantas simplificadas, sem corredores nem recortes. "Não temos o direito de inventar. Parede curva em banheiro, só em Paris. Comprador de baixa renda não se importa com isso. As nossas casas são assim mesmo, e todos sabem de antemão. Elas não têm corredor. O dono já sabe que, se tiver visita na sala, não pode sair do banheiro de toalha amarrada na cintura. Antes da Tenda, as casas de baixa renda aqui eram feitas como se os compradores fossem suíços."

A Tenda inovou na metodologia de construção. As casas são construídas em grupos pequenos, de quatro em quatro ou de dez em dez, por exemplo. Assim, aquelas que já estão prontas e que foram vendidas financiam as que estão sendo construídas. Um empreendimento de dezesseis casas ficou pronto em quatro meses. A construtora terceiriza a obra, que fica a cargo de dez prestadoras de serviços, chamadas de franqueadas, e prefere construir empreendimentos horizontais – principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos, onde os terrenos são mais baratos. "Prédios verticais são coisa do passado", diz o dono da Tenda.

Outra razão do sucesso da empresa é sua política agressiva de vendas. A Tenda não terceiriza. Ela tem um exército formado por centenas de "consultores" que saem em busca de clientes pelo centro de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e, neste ano, pelo de Goiânia. Inspirada no estilo Amway, a Tenda premia com descontos e até viagens os clientes que indicam outros compradores. O consumidor, aliás, decide se quer um financiamento do governo ou se deseja acertar a compra com a construtora. O presidente da empresa diz que 80% dos contratos são feitos com a própria Tenda. "O governo não deveria dar casas. As pessoas têm de pagar para valorizar o patrimônio." Além disso, o valor baixo das prestações da construtora faz com que caibam (ao menos inicialmente) no orçamento do consumidor – cobram-se parcelas a partir de 149 reais. Não há necessidade de comprovação de renda nem de emprego formal. Os vendedores, treinados pela empresa, usam critérios próprios de análise de renda. Em entrevistas com o cliente, fazem uma série de perguntas sobre os objetivos da compra e sobre quem vai morar no imóvel. A partir daí, a tendência é fechar o negócio. A empresa aceita até carros e motos como entrada. A inadimplência é pequena. Enquanto o crédito imobiliário em geral tem 6,3% de calote, na Tenda este não passa de cerca de 3%, de acordo com os números da própria empresa.

Até agora o desempenho da Tenda tem sido notável. Mas quais são os limites e riscos do negócio? O primeiro deles é de ordem financeira. A Tenda oferece financiamentos de até dez anos com juros anuais de 12% mais a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A taxa está bem acima das cobradas por bancos. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, tem linhas para a baixa renda com juros de 6% ao ano, mas o trâmite burocrático e as exigências de renda são inúmeros. Por serem corrigidas, as prestações cobradas pela Tenda podem dobrar em menos de cinco anos. Alves Pinto, portanto, estaria sentado numa bomba-relógio – nada garante que os rendimentos de seus clientes crescerão no mesmo ritmo. Isso sem contar que vários bancos já oferecem melhores alternativas de financiamento imobiliário, com prestações fixas e até decrescentes. Alves Pinto reconhece que seus juros podem ser um problema. Mas acha que sempre poderá renegociar as dívidas em caso de dificuldades. Em última instância, é possível reaver o imóvel. Os planos de expansão da Tenda também levantam desconfiança. Até o fim do ano, Alves Pinto pretende construir 6 000 unidades em todo o país. "Não é impossível, mas custo a crer", diz o executivo da Embraesp Luiz Paulo Pompéia. A ver.

Alves Pinto se espelha em modelos ecléticos: de Jack Welch, ex-CEO da General Electric, ao empresário João Doria Jr., passando pelo treinador de vôlei Bernardinho. Quando ele herdou a empresa do pai, há uma década, a Tenda era especializada no mercado de alto padrão comercial e residencial em Belo Horizonte. Naquele tempo, a companhia tentava sobreviver em um ambiente de negócios modorrento. Então com 22 anos, o jovem empresário decidiu buscar um nicho que lhe proporcionasse maiores taxas de crescimento com margens menores. Essa lógica não é nova. Ela permeou livros de sucesso como A Riqueza na Base da Pirâmide – Como Erradicar a Pobreza com o Lucro, do indiano C.K. Prahalad, professor da Universidade de Michigan. Alves Pinto tem dois hobbies. É fanático por cursos de auto-ajuda empresarial e por suas festas de Ano-Novo em uma ilha em Angra dos Reis. A última causou polêmica entre celebridades e colunáveis convidados. Estava tão lotada que muita gente ficou para fora. Foi o caso do ator Rodrigo Santoro e da empresária Lucília Diniz. Há dois anos, Alves Pinto esteve em Boston com um grupo seleto de empresários num curso ministrado por Jack Welch. Ao falar sobre seu trabalho, o empresário brasileiro disse: "Quero ser a melhor construtora do país". Welch o corrigiu: "Isso é besteira.
Você tem de ser o maior".

Artigo original: http://veja.abril.com.br/170107/p_050.html

O Arquiteto Despachante


"Como podem os arquitetos projetar moradias que só eles podem entender?"


Vivemos em uma sociedade caracterizada pela competição entre grupos, que buscam sempre o favorecimento de seus próprios interesses. Em que um grupo tenta dominar outro, seja pelo poder físico, econômico ou cultural. De certa forma, esta manipulação acontece de maneira sutil e imperceptível, de modo que o grupo dominado nem perceba sua própria subordinação.
No caso dos arquitetos, ocorre uma busca constante pela dominação dentre todos os profissionais envolvidos no campo da construção. Diferenciando os arquitetos dentre engenheiros, planejadores e construtores, pela posse do bom gosto, capacitação técnica, conhecimento artístico e cultural. Sendo assim, o único profissional capacitado para a produção do espaço único, monumental e extraordinário. A questão é que este bom gosto se trata de um capital simbólico e mutável, que depende exclusivamente da imposição de conceitos desenvolvidos pelos próprios arquitetos. De modo que as edificações servem para influenciar e fabricar a ideia de bom gosto, garantindo o domínio do campo de atuação.
Os problemas dessa dominação começaram começam a surgir a partir do início do século XX, enquanto em meio a um déficit habitacional, os arquitetos passam a ter um novo panorama no modo de pensar arquitetura: a produção habitacional seriada de massa. Pior ainda quando certo arquiteto modernista defende a tese que, para possibilitar a reprodutibilidade de uma habitação extraordinária e imutável – imutável porque nada se pode acrescentar retirar ou alterar sem torna-la pior, quem deve mudar é o morador, para se reeducar e compreender a arquitetura – devemos partir do pressuposto que esta residência-tipo será habitada pro uma família-tipo com moradores-tipo. Porém é impossível que uma única planta imutável venha a satisfazer a todas as pessoas que a ela serão submetidas, ainda mais com uma reprodutibilidade em grande escala, abrangendo um numero muito maior de pessoas diferentes.
Não é tarefa fácil conferir certo valor artístico e único a um projeto padrão que deverá ser reproduzido em toda a parte, garantindo o destaque do arquiteto no contexto da construção. E a produção habitacional em série só se sustenta enquanto fundamentada em prioridades econômicas. Sendo assim, o capital simbólico dos arquitetos não pode ser aplicado às habitações em série da mesma maneira que no espaço extraordinário e monumental.
Consequência disso é que esta produção não requer a participação do arquiteto-artista e sim um arquiteto-despachante. Que deve se adaptar ao modo de produção em massa para não ser descartado pelo sistema. Desenvolvendo basicamente soluções de tarefas burocráticas.
“Tal fato ocasiona a mudança no discurso do arquiteto-artista: para ele, essa produção de edificações que não exige sua participação não pode então ser chamada de arquitetura.” (BERNIS, 2008, p.77)
O fato é que não há tantos espaços extraordinários assim a serem produzidos. De maneira que a maioria dos arquitetos terá que se submeter a outras atividades. Uma solução para encontrar o devido papel do arquiteto na produção de moradias em série é, de fato, buscar proporcionar ambientes melhores para as pessoas, deixando de lado o capital simbólico tão valorizado no campo arquitetônico, para encontrar o que realmente é o melhor para quem irá habitar a edificação.
Para tanto, é interessante um reposicionamento do arquiteto, para que haja uma aproximação entre o habitante e o arquiteto. É fundamental a criação de um espaço de dialogo constante entre arquiteto e morador, para que surja um ambiente propicio para o morador participar da concepção projetual. Por que razão não facilitar a intervenção no espaço para quem de fato o habita?
É preciso pensar um processo de projeto que de liberdade de escolha ao cliente. Conciliando individualização, qualidade arquitetônica, reprodutibilidade e considerando o caráter econômico da construção.

Referencia bibliografica: O Arquiteto Despachante - Frederico Mourão Bernis

Drop City, Colorado

Em Drop City temos tentado criar um ambiente de vida total fora da estrutura da sociedade, onde o artista pode permanecer em contato com ele, o universo criativo e outros seres humanos. Será o que ele quer, quando quer e como quer. Sem regras, sem deveres, nem obrigações.
Anarquia. Mas, como anarquista como o crescimento de um organismo. Tem suas próprias necessidades e desejos internos, preenche-los de uma forma natural e simples, sem compulsão. A necessidade de trabalho: de culpa, vazio. Necessita de abandono: o desejo surge. Não mais trabalho, mas o prazer. Tão gratificante quanto comer ou amoroso.
Não fazer nada é o trabalho. Estamos baseados no princípio do prazer. Nossa principal preocupação é estar vivo. Nenhum de nós é empregado ou tenha uma renda constante. Como podemos fazer isso? Comida? Materiais?
À mercê dos deuses. Mas na maioria das vezes não se preocupe com isso. Drop City começou sem dinheiro, construído em praticamente nada. As coisas chegaram a nós. De alguma maneira nós não temos muita fome. Ou feito sem materiais. Ainda.
América, a sociedade de resíduos ricos, resíduos o suficiente para alimentar a dez mil artistas, lixo suficiente para virar mil obras de arte. Para os habitantes da cidade Trinidade, somos vagabundos, catadores de lixo. Eles estão certos. Talvez a criação mais bonita de toda a Drop City é a nossa pilha de lixo, o lixo dos catadores de lixo.
Somos sensualistas. Há milhares de desconhecidos, os sentidos sem nome. Nós tentamos cuidar de cada um. Drop City é de seis hectares de pastagens abandonadas. Vivemos em domos geodésicos, estruturas construídas de acordo com princípios moleculares, blocos básicos de construção energético do universo, o mais forte, utilização mais eficiente do espaço fechado. Após certas dinâmicas leis estruturais, a cúpula ajuda a fornecer seu próprio calor no inverno, seu próprio ar condicionado no verão. Psicologicamente, cria uma atmosfera de harmonia interna e liberdade. Uma estrutura expansiva: não há cantos para esconder, sem a rigidez vertical-horizontal. Mais simples de construir. Mais baratos. Uma cúpula de 25 metros de diâmetro custa menos de 200 dólares, às vezes muito menos.
Drop City é a primeira tentativa de usar cúpulas para a habitação de uma comunidade. Cinco domos geodésicos foram construídos, na maior parte dos "resíduos". O maior deles, ainda em construção, tem um diâmetro de 40 pés. Quando concluído irá servir como espaço de estúdio e de um envolvimento total da luz ambiente sonoro da música. O interior, mais de 2.000 metros quadrados - será uma pintura.
Habitantes de todos os tamanhos, formas e cores: pintores, escritores, arquitetos, mendigos, diretores, mágicos, glutões, músicos, assistentes. Mas todos nós temos isso em comum - o que cada um de nós produzimos arte não está separada da nossa vida. Cada um de nós é o pigmento em sua própria vida: a pintura.
Nós somos os destinatários do Prémio R. Buckminster Fuller Dymaxion de 1966. Uma comunidade psicodélica? Quimicamente, não. Consideramos medicamentos desnecessários. Mas etimologicamente, talvez. Nós somos uma centelha de uma reação em cadeia grande.

Extraído de um artigo de Dropper Ismael em Inner Space. Link:http://www.thefarm.org/museum/dropcity.html

Como montar um Domo Geodésico

Oficina desenvolvida na Universidade Federal de Juiz de Fora em que foi apresentado o conceito do Domo Geodésico e após montarmos maquetes, partimos para a construção de um Domo Geodésico de 2,5m de diâmetro.

Domo Geodésico

Um Domo Geodésico é uma estrutura semelhante a uma meia esfera que é construída através de triângulos. Quanto mais triângulos forem usados e quanto menor for o seu tamanho, mais a sua superfície ficará parecida com a de uma esfera.
R. Buckminster Fuller inventou esta estrutura no final dos anos 40 do séc. XX, para arranjar uma forma barata de construir casas eficientes energeticamente.
No curso de Arquitetura e Urbanismo do Izabela Hendrix, os professores Ezequiel e Paulo Waisberg desenvolveram junto da turma do primeiro período (1ºsem 2010) um projeto de desenvolver Domos Geodésicos de diversos tamanhos.

Primeira Postagem.

Olá internautas!
Então, criei um blog! E agora José?!!!?
O que fazer?!
Bom, vamos por partes. Neste primeiro contato vou descrever os assuntos que serão abordados aqui, para tentar direcionar os principais temas de pesquisa e discussão. Estou criando este blog, afim de discutir assuntos e temas que direcionarão o meu Trabalho Final de Graduação. De forma que este blog seja espaço de dialogo para expor minhas idéias e alguns temas para debate e inclusive ser criticado por vocês! É isso ai, pode criticar a vontade.
De certa forma, este blog não deixa de ser arquitetura, certo? Por mais programada e fora do meu domínio, não deixa de ser um espaço que quais quer pessoas podem entrar, interagir e deixar sua contribuição.
São os mais variados os assuntos que envolvem o pensamento de um arquiteto em formação. Trarei a vocês um material diversificado, desde fotos, videos, textos ou somente frases relacionados com temas discutidos em sala de aula ou encontrados em alguma pesquisa:

1 - Maneiras diferentes de morar;
2 - Políticas publicas;
3 - Papel do arquiteto na sociedade;
4 - Campo de atuação do arquiteto;
5 - História da arquitetura;
6 - Utopias arquitetônicas;
7 - Projetos bem sucedidos;
8 - etc...

Bom... Vamos lá! Até a próxima postagem.